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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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'Abordagem policial racista precisa acabar', afirma Da Cunha a Mano Brown

Deputado federal Delegado Da Cunha (PP-SP), em entrevista ao podcast Mano a Mano - Reprodução / Podcast Mano a Mano
Deputado federal Delegado Da Cunha (PP-SP), em entrevista ao podcast Mano a Mano Imagem: Reprodução / Podcast Mano a Mano

Colunista do UOL

07/02/2023 04h00

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Quando era criança, Carlos Alberto da Cunha foi ao supermercado com a mãe dele. Ela segurou na mão do filho e o alertou para que não ficasse perto do chocolate, porque poderiam achar que ele roubaria o produto por ser um menino preto.

Esse triste relato foi feito pelo delegado da Polícia Civil e deputado federal Da Cunha (Progressistas), hoje com 44 anos, durante entrevista ao podcast original Mano a Mano, apresentado pelo rapper e compositor Mano Brown.

O apresentador, o entrevistado e a jornalista Semayat Oliveira debateram, por 80 minutos, temas importantes como: racismo; desigualdade social; e abordagem, violência e vingança policiais. Falaram também sobre segurança pública, corrupção e crime organizado.

Um dos assuntos mais discutidos na entrevista conduzida por Brown foi a abordagem policial. Da Cunha enfatizou que ela é racista e que essa cultura precisa acabar.

Afirmou que uma de suas prioridades na Câmara Federal será estudar com profundidade a questão e tentar mudar a realidade.

O parlamentar disse que fará um amplo estudo sobre a abordagem policial no Brasil. O trabalho será realizado em parceria com a Comissão Nacional de Direitos Humanos e contará com visitas a países desenvolvidos, onde as experiências tiveram resultado positivo.

Da Cunha observou que a polícia tem obrigação de proteger todo e qualquer cidadão e não de persegui-lo, como acontece diariamente nas quebradas (favelas e bairros pobres) habitadas por pessoas de baixa renda.

O delegado contou que sofreu várias abordagens policiais pelo fato de ser negro.

Mano Brown também relatou que enfrentou abordagens policiais violentas e até agressões covardes. Lembrou que ouviu xingamentos racistas e ofensas à mãe dele. Acrescentou que em certa ocasião foi brutalmente espancado.

Semayat Oliveira observou que o medo da abordagem policial existe antes mesmo de a pessoa sair de casa. Ela citou como exemplo o companheiro dela. Segundo a jornalista, ele é um, entre tantos outros, que tem medo de ser abordado.

O deputado federal explicou que a escola policial ensina a abordar com educação, mas destacou que, na prática, a cor da pele ainda é determinante.

Quando a polícia se depara com dois caras brancos, de 1 metro e 80 e olhos azuis, fala logo que não são ladrões. E é isso o que muita gente pensa."
Delegado Da Cunha, deputado federal

De acordo com Da Cunha, quando a polícia vê um pretinho em uma moto, inclusive entregador de iFood, passa a considerá-lo suspeito, teme que ele esteja armado e pensa como irá sacar a arma.

O preto abordado é sempre esculachado."

Na opinião do parlamentar, é essa cultura que precisa ser banida. Na conversa com Brown, Da Cunha ressaltou que o Brasil precisa evoluir em termos de patrulhamento e que a abordagem só deve ser feita quando se tem motivo, quando se advém de um fato, como um roubo por exemplo.

Para Da Cunha, se não há um fato acontecendo, a polícia deve deixar fluir o direito do cidadão de ir e vir, sem fazer intervenção.

Por outro lado, o delegado deixou claro que no Brasil existe também um sistema brutal e que o policial negro é o que mais morre, vítima da violência.