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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Policial é preso suspeito de negociar 10 kg de cocaína com traficantes

Informante de policial morto na ação prestou depoimento na Delegacia Seccional de São Carlos - Reprodução/Google Maps
Informante de policial morto na ação prestou depoimento na Delegacia Seccional de São Carlos Imagem: Reprodução/Google Maps

Colunista do UOL

13/02/2023 04h00Atualizada em 13/02/2023 22h17

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Até a manhã da última sexta-feira (10), o policial civil Guilherme Henrique da Silva Roque, 34, integrava uma das mais importantes delegacias do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e investigava uma série de mortes envolvendo o alto escalão do PCC (Primeiro Comando da Capital).

No período da tarde, Guilherme teve a arma e a carteira funcional recolhidas, foi detido e conduzido para o Presídio Especial da Polícia Civil, no bairro do Carandiru, zona norte. Ele é investigado por suposta participação em uma negociação de cocaína com traficantes de drogas em São Carlos (SP).

José Silva de Oliveira, advogado do investigador Guilherme, disse à reportagem que seu cliente é inocente das acusações e não esteve em São Carlos no dia da morte de Gabriel —já que no mesmo horário encontrava-se em um lava-rápido no bairro do Ipiranga, zona sul paulistana, onde tinha ido com colegas de equipe buscar uma viatura do DHPP. (Leia mais abaixo)

Segundo as investigações, a negociação de 10 kg de cocaína entre policiais civis e traficantes de drogas aconteceu às 18h30 do último dia 6 e culminou com a morte do agente policial Gabriel Jorge Thomé, 40, como divulgou esta coluna na quinta-feira (9).

A intermediação entre os policiais civis e os donos da cocaína teria sido feita por Wilian Pereira Lopes, 28. Ele contou na Delegacia Seccional de São Carlos que era informante (ganso) de Gabriel e de outros policiais civis. E também afirmou ter sido o negociador dos 10 kg de cocaína —a polícia investiga de que forma o grupo obteria a droga, uma vez que não portaria dinheiro.

A ação foi mal sucedida. Os criminosos desconfiaram de Gabriel. Houve troca de tiros e o agente levou a pior. Acabou morto com dois tiros.

Wilian foi preso em flagrante. Ele confessou a participação no esquema e contou que viajou de São Paulo para São Carlos, com o objetivo de negociar a droga, junto com o agente Gabriel e outros três homens que seriam policiais civis, conhecidos como Roque, Thor e Danilo.

Os traficantes suspeitos de matar Gabriel foram identificados como Luiz Alberto Guimarães de Sousa, 28, e Pablo Stevan Carvalho de Souza, 24. Ambos estão foragidos. Além da dupla, a polícia procura a comparsa deles, Fabiana Delbuque, 31.

Outro agente afastado

Guilherme foi preso pela Corregedoria da Polícia Civil. Ele trabalhava na 3ª Delegacia de Repressão a Homicídios Múltiplos, do DHPP.

O policial civil investigava as mortes de Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta --um narcotraficante ligado a líderes do PCC-- e do motorista e braço direito dele, Anselmo Corona Neto, o Sem Sangue, 33. Os dois foram assassinados em dezembro de 2021 no Tatuapé, zona leste paulistana.

Guilherme chegou a assinar relatórios de investigação apontando o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 36, como o mandante dos assassinatos de Cara Preta e Sem Sangue. Vinícius foi preso em Itacaré, na Bahia, no último dia 2. Ele alega ser inocente.

Nos relatórios constam que Vinícius realizou negócios com Cara Preta e teria desviado dinheiro dele. A investigação conduzida por Guilherme e equipe aponta que o empresário mandou matá-lo após Cara Preta descobrir o suposto desvio. A defesa de Vinícius diz que provará a inocência do cliente durante o curso processual e que entrou com habeas corpus pedindo a liberdade dele.

Nos bastidores policiais, os rumores são de que um outro agente policial que trabalhava com Guilherme e também investigava as mortes de Cara Preta e Sem Sangue foi afastado das funções e está na mira da Corregedoria da Polícia Civil e do Ministério Público.

De acordo com fontes policiais, há suspeitas de que outras pessoas que chegaram a ser presas por envolvimento no assassinato de Cara Preta e depois foram soltas teriam sofrido extorsão milionária. Até agora, no entanto, nada disso foi comprovado pela Corregedoria da Polícia Civil.

O que diz a defesa

Segundo o advogado José Silva de Oliveira, a acusação contra o cliente foi feita com base em um depoimento de um dos envolvidos no imbróglio que ocasionou a morte do agente Gabriel. O defensor afirmou que, para a empreitada, foi utilizado um Volkswagen Golf GTI que era de Guilherme, mas foi negociado e entregue para o indivíduo identificado e apontado como Thor em 29 de janeiro deste ano.

A defesa de Guilherme enviou à reportagem cópia do contrato de permuta do veículo e também vídeos com imagens do investigador no lava-rápido no mesmo horário da morte de Gabriel. O advogado José Silva Oliveira afirmou que os documentos e as imagens foram juntados aos autos do inquérito que apura o caso.

Ainda de acordo com o defensor, também foi solicitado ao DHPP o registro de acesso de Guilherme ao departamento, no dia do assassinato de Gabriel. Os dados também serão anexados aos autos.

O advogado afirmou ainda que "Guilherme não conhecia Gabriel, que ambos nunca trabalharam juntos e que não há que se falar em participação em tratativas de entorpecentes, tampouco em responsabilidade pela fatalidade ocorrida com o agente". Oliveira acrescentou que Guilherme e o homem de sobrenome Roque, mencionado pelo informante Wilian, não são a mesma pessoa.