Facção criminosa do Ceará derruba rivais do PCC no Rio Grande do Norte
As mãos estavam amarradas e o pescoço, degolado. Na cabeça havia um saco plástico. Foi assim que policiais encontraram o corpo de Carlos Eduardo Alves, 32, o Pilato, no dia 15 de agosto deste ano, em uma área de mata no município de Umarizal, região do Alto Oeste do Rio Grande do Norte.
Pilato era integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele estava preso na Cadeia Pública de Caraúbas (RN) e foi autorizado pela Justiça a cumprir o regime semiaberto em casa, sem tornozeleira eletrônica, por falta do equipamento.
No último domingo (17), outra morte violenta foi registrada na mesma localidade. Jeimeson da Costa Moreno, 30, também do PCC, teve os pulsos e o órgão genital cortados e os olhos furados. Os assassinos desovaram o corpo em uma estrada na divisa de Olho D'Água dos Borges e Umarizal, também no estado potiguar.
A Polícia Civil local acredita que as duas vítimas foram assassinadas por homens do GDE (Guardiões do Estado), facção criminosa cearense que está tentando consolidar sua hegemonia também no RN e vem aniquilando os inimigos do PCC com crueldade.
Segundo o delegado Alex Freire, da Divisão de Polícia Civil do Oeste do Rio Grande do Norte, responsável por investigações de facções criminosas, membros do GDE vêm tentando nos últimos anos se fortalecer em território potiguar. Há rumores de que a disputa é pelo tráfico de drogas.
Segundo Freire, o conflito entre os dois grupos se intensificou neste ano, quando o número de homicídios aumentou no Alto Oeste. O delegado afirmou que em 2023 foram registrados 11 assassinatos em Pau dos Ferros contra dois em 2022.
No município de Umarizal foram computados oito homicídios em 2023 e dois no ano passado. Freire disse que o Alto Oeste é um dos últimos redutos do PCC no Rio Grande do Norte e a facção nascida em São Paulo quase não tem mais força no estado nordestino.
Carnificina na prisão
Na capital Natal e demais regiões, a hegemonia ainda é da facção Sindicato do Crime, também conhecida como Sindicato RN ou SDC. Em janeiro de 2017, os dois grupos travaram um violento combate sem precedentes na Penitenciária de Alcaçuz, a maior do RN.
Presos do PCC mataram 27 inimigos. A maioria das vítimas foi degolada. Depois da carnificina, o SDC ficou mais forte em praticamente todo o estado, tanto nos presídios quanto nas ruas. A exceção era justamente o Alto Oeste, formado por aproximadamente 50 municípios.
Fontes do sistema prisional potiguar disseram à reportagem que até pouco tempo atrás o PCC tinha mais força na região, principalmente nos municípios de Mossoró, Apodi, Umarizal e Pau dos Ferros. O quadro se modificou.
O GDE quer controlar o tráfico de drogas local e busca a hegemonia nas ruas e nas prisões, principalmente nos presídios de Mossoró e Pau dos Ferros, esse último ainda dominado pelo PCC justamente por ainda ter o número maior de faccionados na unidade.
Porém, recentemente um preso de 19 anos foi removido para uma prisão do Alto Oeste, onde contou aos agentes que é viciado em drogas e que só podia comprar o entorpecente do GDE. As autoridades não descartam novos conflitos sangrentos entre as três facções criminosas no estado.
O Rio Grande do Norte tem 18 unidades prisionais e uma população carcerária em torno de 13 mil prisioneiros. As principais lideranças de facções e do crime organizado estão custodiadas em unidades da capital.
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