Marcola diz ter sido vítima de maldade após diálogo gravado sem ele saber
Durante visita da esposa na Penitenciária Federal de Porto Velho, Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, contou para ela como teve, sem saber, uma conversa com um agente penitenciário gravada. Segundo ele, foi enquanto recebia cuidados médicos que o chefe de segurança o abordou com um gravador escondido e questionou sobre mortes de agentes.
A conversa de Marcola com a mulher no parlatório do presídio, em 22 de julho de 2022, foi filmada. O UOL teve acesso ao vídeo, divulgado em primeira mão pelo "Cidade Alerta", da TV Record.
A gravação do papo com o agente aconteceu um mês antes, em 15 de junho de 2022, e gerou uma das maiores crises da história do Primeiro Comando da Capital. No diálogo, Marcola, apontado como o líder máximo do PCC, chamou de psicopata Roberto Soriano, 50, o Tiriça — até então o número 2 na hierarquia da facção.
Marcola aproveitou a visita da mulher para revelar que, enquanto estava na maca, tomando soro, o chefe da segurança chegou e passou a lhe perguntar sobre homicídios de agentes penitenciários federais, inclusive de um assassinado em Mossoró.
O líder do PCC reclama que o áudio foi usado no júri e classifica a atitude como "maldade contra ele", já que o agente gravou o diálogo sem ele saber.
Júri de Tiriça
O áudio de Marcola com o agente foi usado por promotores de Justiça no júri que condenou Tiriça a 31 anos e seis meses pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR). A profissional foi morta a tiros em maio de 2017 na cidade paranaense de Cascavel.
Inconformado com a condenação e com o vazamento do áudio no tribunal, Tiriça chamou Marcola de delator e contou com o apoio dos presos Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andino. Os três defenderam a exclusão de Marcola do PCC.
Em contrapartida, a cúpula da facção divulgou um "salve" (comunicado) aos faccionados, explicando que o diálogo de Marcola com o agente penal foi analisado e a conclusão é a de que foi apenas uma conversa de um criminoso com um policial, e que o líder máximo do PCC não fez nada errado.
A cúpula da facção decidiu, então, expulsar Tiriça, Vida Loka e Andinho do PCC. O trio foi considerado culpado sob a acusação de ter infringido os artigos 6 e 9 da organização, que proíbem a calúnia e a traição. O "salve" diz que o preço para os faccionados que desrespeitam essas regras é a morte.
Tiriça, Vida Loka e Andinho estavam recolhidos, até meados do mês passado, na Penitenciária Federal de Brasília, onde ainda se encontra Marcola, mas foram transferidos para a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
A reportagem apurou que integrantes da cúpula da organização ainda tentaram contornar a situação para apaziguar os ânimos e colocar um fim ao racha envolvendo Marcola e os três rivais. A iniciativa dos líderes do grupo parece não ter dado certo.
Fontes ligadas a Tiriça contaram que ele está irredutível e não quer mais se reintegrar ao grupo. Segundo essas pessoas, ele tem convicção de que está certo e que Marcola foi quem errou ao chamá-lo de psicopata em conversa com um agente penal.
Para o MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo), o PCC está totalmente rachado. Mas, para a cúpula da facção, o áudio de Marcola foi usado pela Promotoria no júri com um único propósito: criar um cenário desfavorável ao Primeiro Comando da Capital.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.