Topo

Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Quebra de sigilo mostra que Allan dos Santos enviou R$ 109 mil aos EUA

Colunista do UOL

18/08/2021 18h25

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A quebra de sigilo bancária e fiscal do blogueiro Allan dos Santos, dono do canal bolsonarista Terça Livre, mostra que ele enviou do Brasil para um banco nos EUA um total de, pelo menos, R$ 109,3 mil em três remessas entre abril e maio deste ano. Os documentos, obtidos com exclusividade pela coluna, chegaram para a CPI da Covid nos últimos dias. As remessas serão investigadas pela CPI da Covid.

Os senadores decidiram pela quebra de sigilo por suspeitas de que Santos tenha obtido recursos públicos para apoiar o presidente Jair Bolsonaro com a divulgação de informações falsas a respeito tanto do isolamento social quanto das vacinas no combate à covid-19. A CPI vai investigar todos os dados obtidos na quebra de sigilo para verificar a origem do dinheiro e ainda a possibilidade de o blogueiro ter recebido valores oriundos de publicações que causaram desinformação na pandemia.

As três remessas

A primeira remessa ocorreu em 7 de abril deste ano. O blogueiro enviou R$ 51,2 mil o que totalizou, na ocasião, US$ 9 mil. Cerca de uma semana depois, no dia 16 de abril, ele fez um novo envio de R$ 36,8 mil que acabou convertido a US$ 6,5 mil.

O terceiro envio foi de R$ 21,2 mil e ocorreu no dia 10 de maio deste ano. Em dólares, o valor convertido ficou em US$ 4 mil. Segundo os documentos, todas as remessas foram enviadas para uma conta em nome de Allan dos Santos no Bank of America, nos EUA. O envio de valores foi feito por meio da empresa chamada Cambionet C. Câmbio Ltda, com sede no Rio Grande do Sul.

Nos documentos, o blogueiro informou "ser o titular e/ou beneficiário final efetivo de todos os valores e investimentos movimentados". Santos declarou ainda que "são lícitos a origem da renda, faturamento e patrimônio". Os documentos, porém, não confirmam a origem desses valores.

Procurada, a defesa do blogueiro não retornou. Horas depois, o site Terça Livre publicou uma nota em que diz que "o jornalista Allan dos Santos atualmente exerce a função de correspondente internacional do Terça Livre TV nos Estados Unidos, o que implica que o Terça Livre custeie elevadas despesas com a conversão em dólar. Assim , são necessárias remessas de valores do jornalista de sua conta bancária pessoal no Brasil para a sua conta americana, operações que foram todas elas devidamente declaradas às autoridades fiscais e financeiras do Brasil".

Allan dos Santos foi um dos donos de canais e perfis que pararam de receber remuneração de plataformas digitais, por disseminar informações falsas sobre as eleições no Brasil. A decisão foi tomada na segunda-feira pelo corregedor-geral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Felipe Salomão.

Blogueiro vive nos EUA

O blogueiro está vivendo nos EUA desde o fim de julho do ano passado, pouco depois de passar a ser um dos investigados no inquérito dos atos antidemocráticos.

Os endereços do blogueiro também foram alvo de busca e apreensão no ano passado. Há cerca de uma semana, Allan dos Santos tinha pedido ao STF (Supremo Tribunal Federal) que suspendesse a quebra de sigilo que tinha sido aprovada pela CPI.

Denúncia por ameaça

Na quarta-feira (18), o blogueiro foi denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal) por por ameaça e incitação ao crime contra o ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso.

Os procuradores ofereceram denúncia por causa de um vídeo publicado por Santos no dia 24 de novembro de 2020, com o título "Barroso é um Miliciano Digital". No episódio, o blogueiro fez ameaças ao ministro.

Barroso representou ao MPF que, agora, ofereceu a denúncia no Juizado Especial Criminal Federal da Justiça Federal de Brasília. O MPF afirmou que as declarações de Allan "estão excluídas do âmbito de cobertura da liberdade de expressão, porquanto configuram proibições expressas dispostas no direito internacional dos direitos humanos".

Em relação à denúncia, o blogueiro emitiu uma nota na qual disse que respondeu a declarações do ministro que o acusaram de pertencer a "milícia digital".

"Em momento algum o jornalista fez qualquer ameaça ao ministro, o que foi tratado no programa foi o potencial dano à honra das pessoas da internet pelos termos empregados pelo ministro e eventual responsabilização legal do ministro na justiça ("para não sofrer uma ação") por qualquer pessoa da internet que tenha se sentido ofendida".