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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Diretor-geral da Abin estuda disputar cadeira a deputado federal em 2022

Colunista do UOL

24/08/2021 07h00

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O diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem, estuda a possibilidade de deixar a carreira na instituição e na PF (Polícia Federal) para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados na eleição de 2022.

Para avaliar suas chances, Ramagem passou a alimentar frequentemente seus perfis nas redes sociais a partir de abril deste ano. E, diferente do perfil discreto de antecessores no cargo, tem feito postagens em defesa do presidente Jair Bolsonaro e até se posicionado em assuntos que não estão diretamente relacionados à Abin, como a questão do voto impresso.

Em maio, Ramagem postou: "Voto auditável significa segurança ao pleito eleitoral e evolução das urnas eletrônicas. Assegura integridade e transparência aos resultados do sufrágio universal. Compromisso com a representatividade popular e a democracia". Essa postura pública de Ramagem é vista pelos pares como se ele já tivesse feito a opção pelo caminho da política. Para disputar a eleição, ele precisará deixar o cargo público no ano que vem.

A coluna pediu um comentário de Ramagem, mas até o momento ele não se pronunciou.

A escolha de Bolsonaro por um partido também será avaliada por Ramagem. Se ele se tornar candidato, será mais um dos auxiliares próximos de Bolsonaro a tomar o rumo da carreira política.

Na cota do presidente, os nomes dos assessores Tércio Thomaz e Max Guilherme Machado Moura já são dados como os candidatos de Bolsonaro em 2022 para a Câmara. Os dois integram a estrutura do chamado "gabinete do ódio", responsável por atacar adversários de Bolsonaro nas redes, muitas vezes com informações falsas.

Carreira

Delegado da PF, Ramagem cursou Direito na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e está na PF desde 2005. Ele atuou na coordenação de grandes eventos no Brasil: Conferência das Nações Unidas Rio +20 (2012); Copa das Confederações (2013); Copa do Mundo (2014); e Jogos Olímpicos do Rio (2016).

A aproximação com Bolsonaro ocorreu a partir do segundo turno da eleição de 2018, quando o delegado comandou a segurança pessoal do então presidente eleito. Até o período em que se tornou coordenador da segurança do presidente, Ramagem era visto como um delegado técnico.

Em 2017, o delegado atuou em investigações da chamada operação Lava-Jato no Rio de Janeiro. Ele coordenou a operação "Cadeia Velha" que prendeu a cúpula do MDB na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Foram presos, na época, os ex-deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi.

Após o período na segurança de Bolsonaro, no fim de 2018, Ramagem foi nomeado Superintendente Regional da PF no Ceará, mas acabou chamado para o cargo de assessor especial da Secretaria de Governo da Presidência da República, na função de auxiliar direto do então ministro Carlos Alberto Santos Cruz.

Com a saída de Santos Cruz, Ramagem assumiu a Abin em julho de 2019. Nessa época, começaram os rumores sobre a existência de uma "Abin paralela" que produziria dossiês com informações sobre adversários do presidente. O governo sempre negou a informação. No entanto, outras polêmicas surgiram.

Em abril do ano passado, Bolsonaro e o então ministro da Justiça Sergio Moro romperam depois que o presidente decidiu que queria Ramagem como diretor-geral da PF, o que Moro era contra. Para o ex-juiz, a opção era uma interferência política do presidente na PF. Há um inquérito no STF sobre o caso.

Já no segundo semestre do ano passado, Ramagem esteve com o ministro Augusto Heleno, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), em uma reunião com as advogadas do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

Segundo o jornalista Guilherme Amado, depois dessa reunião, a Abin teria produzido relatórios para auxiliar a defesa do senador. A Abin negou a produção dos documentos e conduziu uma investigação interna que resultou no afastamento de um servidor.