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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Demônio, bem contra o mal e militância paga: Bolsonaro está em campanha

Colunista do UOL

27/03/2022 13h25

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Batalha espiritual, demônio, luta do bem contra o mal, oração e o direito a uma segunda chance. Esse é um pequeno resumo do tom dos discursos que os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro ouviram no "Movimento Filia Brasil", nome criado de última hora para o evento que pretendia ser o lançamento da pré-candidatura à reeleição de Bolsonaro. No entanto, com o risco de ferir a legislação eleitoral, o nome foi modificado.

Acostumado a conviver com multidões, é provável que Bolsonaro tenha visto do palco que seus apoiadores não lotaram o salão do Centro Internacional de Convenções do Brasil, local do evento.

A coluna também conversou com diversos militantes, sob anonimato, e ouviu deles que, para estar ali, os apoiadores tinham recebido dinheiro para pagar o combustível ou que tinham vindo em ônibus fretados. Uma grande parte deles estava com camisetas para divulgar o nome de Rafael Sampaio, pré-candidato a deputado federal e assessor da ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda.

Alguns deles também estavam com faixas com frases de apoio a Bolsonaro, Flávio e Sampaio e tinham a inscrição: "Cumprindo a missão". A mesma mensagem também estava nas camisetas dos militantes.

Apoiadores do assessor Rafael Sampaio em evento de Bolsonaro - Juliana Dal Piva - Juliana Dal Piva
Apoiadores do assessor Rafael Sampaio em evento de Bolsonaro
Imagem: Juliana Dal Piva

O PL (Partido Liberal), porém, estimou em três mil o público do evento que também contou com a presença de diversos ministros e políticos. Bolsonaro esteve acompanhado da primeira-dama Michelle e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho mais velho.

Batalha espiritual

Pouco antes de passar o microfone a Bolsonaro, o locutor do evento disse: "É uma batalha espiritual. Quero dizer que temos que orar e agradecer. O diabo e o demônio vem para roubar, mentir, confundir, para matar e destruir. Veio a esquerda e roubou o país, veio a esquerda e tentou matar e tirar a vida do Jair Messias". Os presentes ainda rezaram uma oração do pai-nosso antes de Bolsonaro iniciar seu discurso.

O presidente deu diversos recados durante seu discurso. Citou ações do governo, criticou governadores por medidas de isolamento social durante a pandemia e entrou no clima de "batalha espiritual" mencionado pelo locutor. "O nosso inimigo não é externo, é interno. Não é luta da esquerda contra a direita, é do bem contra o mal", afirmou Bolsonaro.

Novamente, o presidente ensaiou uma vacina para as críticas contra sua filiação ao PL de Valdemar Costa Neto, presidente da legenda do presidente e que foi condenado pelo STF no Mensalão do PT.

O Bolsonaro que tantas vezes criticou a corrupção e disse que "bandido bom é bandido morto" quis soar mais compreensivo. "Somos todos humanos e podemos errar", disse o presidente. Ainda completou: "Quem está aqui e não merece uma segunda chance?"

Flávio Bolsonaro seguiu na linha pai. Falou da família, mas já se antecipou às críticas pela denúncia do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que o acusou de liderar uma organização criminosa que desviou R$ 6 milhões da Alerj. "Quando ele vem defender o instituto família, não é defender um filho não. Não é defender um parente ou um amigo por algo que fez de errado que nós não fizemos nada de errado", discursou o senador. No entanto, como o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou diversas provas, os procuradores fluminenses terão que refazer parte das investigações para poder oferecer nova denúncia sobre o caso.