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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Granada que matou Genivaldo era de empresa líder em armas "não letais"

Policiais trancam Genivaldo e o sufocam com gás lacrimogêneo - Reprodução
Policiais trancam Genivaldo e o sufocam com gás lacrimogêneo Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

12/10/2022 04h00

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A granada de gás lacrimogêneo disparada por policiais contra Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, era uma granada de modelo GL-309, I-REF, da empresa brasileira Condor Tecnologias Não-Letais, uma líder global na venda de armas "não letais". Essa foi uma das descobertas na perícia do caso feita pela Polícia Federal. A coluna teve acesso a um trecho do documento que mostrava o tipo da arma.

Ao todo, Genivaldo foi submetido a gases tóxicos por 11 minutos e 27 segundos dentro de uma viatura da PRF (Polícia Rodoviária Federal) estacionada. É o que aponta a perícia feita pela Polícia Federal sobre a abordagem violenta que terminou com a morte de Genivaldo.

A coluna tratou do caso dele e da ostensiva presença da Condor na venda desse tipo de armamento no Brasil e no exterior no especial "O negócio da repressão", uma reportagem, resultado de uma investigação colaborativa e transfronteiriça liderada pelo CLIP (Centro Latino-Americano de Investigação Jornalística), em parceria com o UOL, Interferência de Chile e outros nove meios de comunicação na América Latina e nos Estados Unidos, revela que o marketing de empresas como a Condor é desmentido pela realidade.

No Chile, a senadora Fabiola Campillai ficou cega ao ser atingida no rosto por uma granada de gás lacrimogêneo atirada por um policial daquele país. Uma investigação do Ministério Público do Chile encontrou documentos que apontam que o carabineiro, responsável pelo ataque, portava naquele dia granadas do tipo GL-203-L, fabricada pela empresa brasileira Condor Tecnologias Não-Letais. Com essas provas e vídeos do momento da agressão, ele foi denunciado ao Judiciário chileno e condenado a 12 anos e 183 dias de prisão. Como ela, diversos outros chilenos ficaram feridos por granadas de gás fabricadas no Brasil

Parado por estar sem capacete

Genivaldo foi parado por policiais rodoviários federais no município de Umbaúba, litoral sul de Sergipe, em 26 de maio de 2022. Ele estava em uma moto quando foi abordado em uma blitz na BR-101 por estar sem capacete. Depois de algum tempo, ele foi imobilizado pelos policiais. Em vídeos que circularam nas redes, foi possível ver pessoas dizendo aos policiais que ele tinha problemas mentais. Wallison de Jesus Santos contou ao UOL que o tio chegava a carregar junto seus remédios.

Alguns minutos adiante, Genivaldo foi jogado no porta-malas da viatura. Em um vídeo que circulou na internet, foi gravado o momento em que ele estava preso no porta-malas da viatura e, pelas frestas da porta traseira, mantida semifechada, surgiu uma fumaça. Ao mesmo tempo, era possível Genivaldo se debatendo com as pernas balançando em desespero, enquanto ele gritava no interior da viatura. Um dos policiais chegou a segurar as pernas dele enquanto o outro bombeava gás para dentro da viatura por uma das frestas.

Minutos depois, um familiar se aproximou e os policiais levaram Genivaldo a um hospital local, mas ele já estava morto.

Segundo laudo do IML (Instituto Médico Legal), a causa da morte foi "insuficiência aguda secundária a asfixia". Depois de morto, a PRF multou Genivaldo em um total de R$ 1,8 mil por estar sem capacete naquele dia, sem habilitação e de sandálias.

Segundo revelou uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, a perícia da Polícia Federal concluiu que após a detonação do gás lacrimogêneo, ocorreu uma liberação de gases tóxicos, como o monóxido de carbono e o ácido sulfídrico. Nos exames, foi constatada grande presença de ácido sulfídrico e isso pode ter causado convulsões e incapacidade de respirar. A perícia avaliou que os gases causaram um colapso no pulmão de Genivaldo.

Na segunda-feira, o MPF ofereceu denúncia contra os três policiais acusados pelo crime: William de Barros Noia, Kleber Nascimento Freitas e Paulo Rodolpho Lima Nascimento. A Justiça Federal vai analisar a denúncia e a abertura de processo.

O advogado Ivis Melo, que atua na defesa da família de Genivaldo, disse à coluna que para o processo criminal, o tipo de granada é indiferente para a responsabilização criminal dos policiais "Há clara orientação no manual, de que a granada não pode ser utilizada em ambiente fechado. O que infere do caso, ao nosso entender, o dolo direto de matar", informou o advogado.

"Além disso, houve utilização em excesso e desproporcional do spray de pimenta por várias vezes. Esse é um ponto de destaque. O ambiente em que foi utilizado foi fator determinante para a letalidade. Mas somado a isso tem a informação de outros tipos de granada com questionamentos por parte da própria polícia", completou. O defensor disse ainda que vai processar a União por uma indenização para a família.

O advogado Glover Castro que atua na defesa dos policiais informou à coluna que os policiais "em momento algum queriam o resultado morte, tampouco anteviram e/ou consentiram".