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Livro expõe negligência homicida de Trump, copiada à risca por Bolsonaro

Os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, em reunião de 2019 em Washington - Mark Wilson/Getty Images
Os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, em reunião de 2019 em Washington Imagem: Mark Wilson/Getty Images

Colunista do UOL

10/09/2020 11h53

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As revelações de "Fúria", o novo livro do jornalista Bob Woodward, mostram que o presidente Donald Trump agiu com negligência homicida na resposta à pandemia de coronavírus. As atitudes do presidente Jair Bolsonaro são semelhantes as de Trump, o que também permite caracterizar como negligência homicida a conduta do brasileiro contra a covid-19.

Trump e Bolsonaro foram alertados por auxiliares sobre a gravidade da pandemia bem no início da crise, mas preferiram adotar a estratégia da negação. Robert O'Brien, conselheiro nacional de Segurança, disse a Trump no fim de janeiro que o coronavírus seria a maior ameaça de segurança nacional do seu mandato.

Na semana que passou, Bolsonaro, que copia Trump, ironizou alertas do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre o impacto da pandemia no Brasil. Os presidentes americano e brasileiro vivem em guerra com os cientistas.

Os paralelos entre Trump e Bolsonaro são inúmeros. Usaram o falso argumento de que doenças preexistentes seriam a causa de mortes contabilizadas como resultantes do coronavírus, tentando diminuir o número de fatalidades por covid-19. Os dois presidentes terceirizaram responsabilidades, dinamitaram o trabalho dos governadores de estado, boicotaram a quarentena e pregaram uma reabertura prematura da economia.

Trump e Bolsonaro fazem comícios e eventos públicos quase sempre sem máscara e sem distanciamento social. Estimulam aglomerações, contrariando diretrizes sanitárias de órgãos federais.

Ambos os presidentes compararam a covid-19 à gripe comum. Os dois sempre minimizaram a gravidade do coronavírus, estimulando que americanos e brasileiros corressem mais riscos. Mais gente adoeceu e morreu sem necessidade devido ao comportamento irresponsável de Trump e Bolsonaro.

O livro de Woodward é um retrato histórico dos oito meses de pandemia nos EUA. Sem poder negar o que disse a Woodward, Trump tenta normalizar uma conduta reprovável. É o que Bolsonaro faz todo dia.

O presidente que adota a estratégia do medo para tentar se reeleger, prevendo fraudes em massa na votação via correio e dizendo que um governo democrata aumentaria a violência nos EUA, é o mesmo que alega não ter alertado os americanos sobre os riscos do coronavírus a fim de não causar pânico.

O americano, que revelara a Woodward que o vírus era cinco vezes mais "mortal" do que uma "forte gripe", disse que minimizou e minimiza de propósito a pandemia. É exatamente o comportamento do presidente brasileiro. Ambos cometeram crimes de responsabilidade contra a saúde pública nos EUA e no Brasil.

Bolsonaro já disse que governadores e imprensa quiseram disseminar o "pânico" e "desinformação". O brasileiro usou quase literalmente as palavras de Trump para forçar estados a reabrir a economia: "Sempre disse que o efeito colateral do combate ao vírus não poderia ser pior do que o próprio vírus".

Trump é provavelmente o presidente mais testado do planeta. Está protegido por médicos 24 horas por dia. Bolsonaro, que teve covid-19, fazia três eletrocardiogramas diários para monitorar o risco de tomar um remédio ineficaz, a hidroxicloroquina. No escudo da bolha do poder, os dois covardes realizaram inúmeros atos públicos provocando aglomerações.

As respostas incompetentes e irresponsáveis de Trump e Bolsonaro à maior crise sanitária em um século só podem ser classificadas como negligência homicida. Eles são o que são. A História garantirá aos dois os títulos de genocidas da pandemia.