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Araújo mostra submissão a Pompeo para ajudar Trump a ganhar voto na Flórida

Para aprovar diplomatas, Araújo acerta ida ao Senado após visita de Pompeo -  Ederson Brito/Futura Press/Folhapress
Para aprovar diplomatas, Araújo acerta ida ao Senado após visita de Pompeo Imagem: Ederson Brito/Futura Press/Folhapress

Colunista do UOL

21/09/2020 15h56Atualizada em 21/09/2020 17h16

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O presidente Jair Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, aceitaram mais vez o papelão de fazer do Brasil um quintal americano para tentar ajudar o presidente Donald Trump a ganhar votos entre eleitores da comunidade venezuelana na Flórida.

O secretário de Estado dos Estados Unidos (EUA), Mike Pompeo, visitou quatro países sul-americanos num giro de três dias no fim de semana. Esteve na Colômbia, no Suriname, na Guiana e no Brasil.

Na sexta-feira, Pompeo participou de uma solenidade em Boa Vista, Roraima. O encontro rendeu prejuízo político a Araújo, que terá de explicar no Senado nesta quinta-feira a permissão de uso do território brasileiro para os EUA fustigarem a Venezuela. Mais uma vez, Trump e Pompeo saíram no lucro ao tirar proveito do complexo de vira-latas de Bolsonaro e Araújo.

A submissão a Trump e Pompeo rendeu dor de cabeça política a Araújo num momento em que ele tenta aprovar no Senado uma leva de indicações de embaixadores brasileiros.

Em nota, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, criticou a política externa: "A visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, às instalações da Operação Acolhida, em Roraima, junto à fronteira com a Venezuela, no momento em que faltam apenas 46 dias para a eleição presidencial americana, não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa".

Na visita a Roraima, o secretário de Estado americano bombardeou o presidente Nicolás Maduro: "Não devemos esquecer que ele não é apenas um líder que destruiu seu próprio país, provocando uma das crises de mais extraordinárias proporções da história moderna, ele também é um traficante de drogas, levando drogas ilícitas para os Estados Unidos, impactando os americanos todos os dias".

Brasil quebra protocolos para manifestar apoio a Trump

Bolsonaro tem agido com extrema submissão a Trump. O Brasil abriu mão de uma candidatura à presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para viabilizar a eleição ao posto do americano de origem cubana Mauricio Claver-Carone. Bolsonaro e Araújo ajudaram a quebrar uma tradição de 60 anos que previa que a presidência do BID sempre seria ocupada por um latino-americano.

Neste mês, o governo brasileiro estendeu por mais três meses uma cota de importação de etanol dos EUA sem tarifa. A decisão contribui para a campanha eleitoral de Trump, que obtém uma vantagem para o agronegócio americano. Araújo tentou a vender a concessão como uma forma de negociar o incremento de exportação de açúcar brasileiro para os EUA.

Bolsonaro e o filho Eduardo, deputado federal, já declararam apoio explícito à reeleição de Trump, atitude considerada politicamente desastrosa e que poderá custar ao caro ao Brasil se Biden for eleito.

Caso parecido ocorreu com a Argentina, quando ao criticar abertamente a candidatura de Alberto Fernández, Bolsonaro acabou por se indispor com o atual presidente do país, que venceu Mauricio Macri nas urnas. A política externa de Araújo é um caso perfeito de apequenamento do Brasil nas relações internacionais.

Diáspora venezuelana

Com a ascensão do chavismo na Venezuela no início deste século, houve uma diáspora do país sul-americano. Boa parte dos imigrantes foi para os EUA, especialmente para a Flórida. O recado de Pompeo é uma sinalização aos venezuelanos que vivem no Estado, considerado decisivo na disputa entre Trump e o candidato democrata, Joe Biden, para formar maioria no Colégio Eleitoral.

Biden, que estava atrás de Trump nas pesquisas, cresceu na Flórida. Hoje há uma situação de empate técnico entre eles nos levantamentos feitos no estado, com leve dianteira numérica para o democrata. Segundo a média das pesquisas do site "Real Clear Politics", Biden tem 48,6% contra 47% de Trump. Com 29 delegados no Colégio Eleitoral, a Flórida é um dos estados-pêndulo na eleição de 3 de novembro.

Como a eleição presidencial é indireta nos EUA, não basta ganhar no voto popular. Trump perdeu de Hillary Clinton no voto nacional em 2016, mas derrotou a democrata no Colégio Eleitoral, onde é preciso alcançar, no mínimo, a maioria absoluta (270) entre os 538 delegados. A Flórida é um dos principais campos de batalha entre democratas e republicanos. Lá, além do eleitorado de origem venezuelana, há uma significativa comunidade de dissidentes cubanos.

A viagem de Pompeo também foi um aceno para o eleitorado latino de modo geral. Biden lidera nesse segmento. Segundo pesquisa recente do "Wall Street Journal", o democrata conquistou o apoio de 62% dos eleitores latinos. Trump conseguiu apenas 26%.

O Arizona é outro estado no qual a influência latina tem crescido e beneficiado os democratas. O estado também é considerado decisivo na disputa no Colégio Eleitoral. O Arizona tem 11 delegados entre os 538.