Luta por futuro do Judiciário dos EUA é prévia do que acontecerá no Brasil
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Estrela jovem da esquerda do Partido Democrata, a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, a AOC, fez um apelo para que os eleitores votem em Joe Biden em 3 de novembro a fim de "deixar nossa democracia viver mais um dia".
A fala de AOC, divulgada nas redes sociais, aconteceu no contexto da morte da ministra da Suprema Corte Ruth Bader Ginsburg, que faleceu nesta sexta-feira, 18/09, em decorrência de um câncer no pâncreas. AOC se dirigiu especialmente aos eleitores que não costumam votar por descrença na democracia e nos políticos.
A deputada disse entender esse sentimento de decepção, mas afirmou: "Neste ano, nesta eleição, votar em alguém... votar em Joe Biden não é um voto sobre concordar com ele, é um voto para deixar nossa democracia viver mais um dia".
Ela prosseguiu: "Temos de agir para proteger, com solidariedade, os mais vulneráveis na nossa sociedade, aqueles que já experimentaram a violenta repercussão desse governo".
AOC tem razão. Ela, que apoiou o senador Bernie Sanders nas primárias democratas, não é fã do moderado Joe Biden. Mas entendeu o sentido da história e fez um apelo politicamente acertado por união contra Trump. Que sirva de exemplo à oposição brasileira.
A morte de Ruth Bader Ginsburg, uma progressista identificada com as causas femininas e questões sociais, abre uma vaga no Suprema Corte no fim do primeiro mandato de Donald Trump, que tenta a reeleição.
O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConell, já disse que a substituição deve ser votada ainda neste ano, apesar de ele ter liderado em 2016 um bloqueio a uma indicação de Barack Obama sob o argumento de que se tratava de um ano eleitoral.
Está em curso uma luta entre republicanos e democratas sobre o futuro da cúpula do Judiciário dos EUA. Trump deverá tentar indicar e aprovar um substituto. O candidato democrata, Joe Biden, já disse que a indicação deveria ser tratada pelo eleito para o próximo mandato.
Obama cobrou coerência dos republicanos. Em 2016, quando Anthony Scalia morreu em fevereiro, os republicanos bloquearam a indicação de Merrick Garland para substituí-lo. Se em fevereiro de um ano eleitoral prevaleceu o argumento de que o presidente de plantão não deveria indicar um ministro para a Suprema Corte, por que seria diferente permitir que Trump o fizesse com a vacância de uma vaga em setembro de outro ano eleitoral?
A luta para moldar um Judiciário mais conservador tem sido um objetivo comum de líderes populistas do mundo inteiro. Se os republicanos conseguirem consolidar uma maioria de 6 conservadores contra 3 liberais na Suprema Corte, haverá influência durante décadas.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro deverá fazer duas indicações para o Supremo Tribunal Federal, substituindo no seu mandato os ministros Celso de Mello e Marco Aurélio Mello.
Com a destruição institucional que tem levado a cabo no Brasil, Bolsonaro deverá nomear ministros conservadores de baixo nível, que é o padrão do seu governo. Nesse contexto, o que acontece nos EUA serve de lição aos brasileiros. A batalha americana é uma prévia do que acontecerá no Brasil. Deixar Bolsonaro no poder, apesar de seus inúmeros crimes de responsabilidade, terá efeito sobre o futuro do Judiciário no Brasil.
Nas redes sociais, ministros dos Supremo Tribunal Federal citaram a coragem e a coerência de Ruth Bader Ginsburg. De repente, ficamos sabendo que ela era a heroína de muitas personalidades brasileiras.
Além de democratas de pandemia, temos agora os valentes de biografia alheia. Vemos gente poderosa que contribuiu para a ascensão de Bolsonaro ao poder tentar se associar à biografia de Ruth Bader Ginsburg. Haja hipocrisia.
Essa gente se omitiu no Supremo Tribunal Federal e se comportou com covardia em momentos cruciais da nossa história. Essa gente ficou escondida atrás de suas penas e togas fazendo falsa equivalência nos últimos anos. Essa gente pavimentou o caminho para Bolsonaro chegar ao poder.
Talvez essa gente possa se inspirar de verdade em Ruth Bader Ginsburg, que deixou mensagem póstuma manifestando o desejo de que seu substituto seja indicado pelo próximo presidente eleito. Ela lutou até depois da morte. Que sirva de exemplo à elite brasileira.
Deixar Bolsonaro continuar a destruir o Brasil é para os fracos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.