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Kennedy Alencar

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Silveira não é o problema, mas o fascismo moreno da turma do Villas Bôas

O deputado federal Daniel Silveira se recusou a usar máscara durante o exame de corpo de delito no IML - Reprodução / Redes Sociais
O deputado federal Daniel Silveira se recusou a usar máscara durante o exame de corpo de delito no IML Imagem: Reprodução / Redes Sociais

Colunista do UOL

17/02/2021 14h03Atualizada em 18/02/2021 11h55

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O problema não é o deputado Daniel Silveira, mas a turma do general Villas Bôas. Silveira (PSL-RJ) não é apenas a expressão do bolsonarismo mais extremista. Não se trata de um bárbaro que destoa da orquestra. Ele representa o fascismo moreno que bate à porta da nossa democracia.

O discurso criminoso de Silveira é semelhante ao feito pelo ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas. Que diferença há na fala absurda e tosca xingando ministros do STF e os tuítes de abril de 2018 pressionando o Supremo que Villas Bôas disse ter combinado com o Alto Comando do Exército? São conversas típicas dos chamados "cidadãos de bem".

Que história é essa de que não interessa mais ao presidente Jair Bolsonaro pintar o Supremo como antro de ladrões que protegendo comunistas que ameaçam o Brasil? Interessa, sim. Faz parte da narrativa de Bolsonaro para concorrer à reeleição e reagir a la Donald Trump contra eventual derrota.

Também interessa às Forças Armadas o tipo de manifestação que pinta Villas Bôas como inatingível. Silveira cobrou o Supremo a ter coragem de agir contra o ex-comandante do Exército que zombou da reação tardia do ministro do STF Edson Fachin àqueles tuítes golpistas de três anos atrás.

Villas Bôas endossou um golpe parlamentar, pressionou o STF a prender Lula e ajudou Bolsonaro a conquistar a Presidência, papel semelhante ao de Sergio Moro, figura autoritária poupada pela imprensa. Villas Bôas e Moro são a nata desse fascismo moreno, que mistura discurso anticomunista anacrônico com falso desejo de combate à corrupção. Tudo em nome de Deus e da pátria.

Voltando a Daniel Silveira, imunidade parlamentar não é escudo para proteger crimes cometidos por congressistas. O discurso de Silveira é um ataque ao STF, à Constituição e à democracia. A quebra do decoro parlamentar é evidente. Logo, ele merece a cassação. Resta saber se a Câmara resistirá à tentação de uma reação corporativa.

Nesse contexto, a resposta da Câmara será mais importante do que a do Supremo Tribunal Federal. Prender parlamentares não é algo a ser vulgarizado, mas parecem que os elementos contra Silveira mais do que justificam a detenção. Ele está incitando agressões verbas e físicas contra ministros do STF. Isso é criminoso.

O STF referendou nesta quarta a decisão do ministro Alexandre de Moraes que determinou a prisão de Silveira, mas essa atitude não bastará para diminuir o risco de um novo golpe contra a democracia brasileira.

Com verbas e privilégios, Bolsonaro está enchendo a estrutura do governo com militares. A maior liberdade para compra de armas e munição atende ao projeto miliciano-político. O caminho para estruturar uma nova aventura golpista está se desenhando sob os olhos das instituições.

Punir Daniel Silveira é preciso, mas há personagens mais ameaçadores e perigosos a serem enfrentados.

Recado duro

Pouco antes das 15h desta quarta, dez ministros do STF deram apoio à decisão de Alexandre de Moraes de prender o deputado Daniel Silveira. A posição fechada dos 11 ministros do tribunal a favor da prisão em flagrante deixa a Câmara numa sinuca de bico. Derrubar a prisão sairá caro para a Câmara, porque criaria choque institucional e mostraria apoio ao fascismo moreno que ameaça democracia.

A Casa vai decidir agora se ratifica ou não a prisão. Cresceu pressão para endossar o que decidiram 11 ministros do STF.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O sobrenome do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) foi erroneamente grafado como Oliveira no segundo parágrafo. O texto foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL