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Prevent Senior protege Bolsonaro e atribui tratamento precoce só a médicos
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O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Jr., adotou na CPI da Pandemia a estratégia de responsabilizar individualmente médicos dos seus hospitais por prescrever remédios do chamado "tratamento precoce", que têm drogas que não funcionam para combater a covid-19. Houve preocupação em preservar Jair Bolsonaro, negando interesse da empresa em agradar a teses negacionistas do presidente da República.
Batista Jr. rebateu a acusação de que a empresa adotou o "tratamento precoce" como política geral e não caso a caso, como consta de denúncia feita por médicos à CPI. Ou seja, Batista Jr. optou por tentar conter danos na Comissão Parlamentar de Inquérito, onde os holofotes o deixam em desvantagem, e jogar para a Justiça a contenda com o grupo de denunciantes.
A Prevent Senior conduziu um experimento ilegal com pacientes usando medicamentos que não funcionam contra a covid, como cloroquina e ivermectina. No depoimento, Batista Jr. se referiu ao experimento como "observação", mas foi lembrado pelo senador Humberto Costa (PT-PE) de que a Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) não aprovou o estudo da Prevent Senior.
Logo no começo do depoimento, Batista Jr. trucou alto. Disse que a empresa, que tem uma rede de hospitais e uma carteira de 550 mil pessoas com seguro-saúde, fora vítima de denúncia "infundada". Alegou que houve falsificação e edição de mensagens, planilhas e prontuários médicos entregues à CPI.
Quando o relator Renan Calheiros (MDB-AL) começou a inquirição, o depoente escorregou. Além de atribuir a responsabilidade pela prescrição de remédios à autonomia dos médicos, alegou que havia pressão dos pacientes para receber drogas como cloroquina e ivermectina.
"Começa mal"', disse Renan. Afinal, paciente não deve orientar prescrição de remédio, mas o médico obedecendo à ciência. Não é possível nem correto do ponto de vista ético transferir essa responsabilidade, que é da Prevent Senior e dos médicos, para os doentes e seus familiares.
Na sequência, o relator divulgou um áudio que mostrava o depoente tentando convencer um médico a voltar atrás nas acusações, alertando-o de que poderia expor ou prejudicar a própria família. A fala soou como ameaça, apesar da negativa do depoente. A coisa foi se complicando para Pedro Benedito Batista Jr.
A questão da autonomia médica, sempre citada por Bolsonaro e seus negacionistas, foi invocada por Batista Jr. o tempo todo. Mas ela não é plena.
Médico não pode receitar "veneno", disse Humberto Costa, que faria uma das inquirições mais duras. Médicos devem prescrever remédios que possam ter eficácia contra uma doença, segundo critérios científicos e não de fé.
Na retranca, Batista Jr. disse que não tinha autorização da família do médico Anthony Wong para falar do tratamento que recebeu e da causa de sua morte. Reportagem da revista "Piauí" revelou que um hospital da rede da Prevent Senior escondeu que Wong morrera de covid-19.
O depoente também se recusou a falar do tratamento de Regina Hang, mãe do empresário Luciano Hang, apoiador de Bolsonaro e um dos maiores negacionisas da pandemia. Segundo o dossiê entregue à CPI, informação revelada por Renan Calheiros, Regina Hang recebeu medicamentos do tratamento precoce e morreu num hospital da Prevent Senior. Mas o filho, Luciano, teria pedido aos médicos para omitir que ela recebera tais remédios para não desacreditar a tese do tratamento precoce. O atestado de óbito também teria sido falsificado para omitir o falecimento por covid-19.
Por várias vezes, senadores disseram que a Prevent Senior escondeu mortes por covid-19, atribuindo-as a outras doenças. Humberto Costa, por exemplo, chamou de "fraude" a Prevent Senior considerar que doentes não morreram de covid-19 após superarem o período de 14 dias de infecção ou 21 dias (casos de internação em UTI).
Ou seja, a empresa registraria mortes por covid-19 apenas as ocorridas dentro desse intervalo de tempo. Após esses períodos, as mortes por complicações por covid-19 não seriam contabilizadas como fatalidades por coronavírus. Obviamente, essa é uma forma de diminuir a taxa de letalidade por covid-19, como se gaba a Prevent Senior.
"Temos as Melhores taxas de sobrevida do país e do mundo", disse Batista Jr., no que foi prontamente rebatido pelos senadores.
Outra acusação dura foi feita pelo senador Otto Alencar (PSD-BA): a Prevent Senior retiraria prematuramente pacientes da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por achar que não sobreviveriam, levando-os à enfermaria para tratamento paliativo. Ou seja, encaminharia pacientes para cuidados a fim de que tivessem uma morte confortável.
Se for provado que houve uma política de retirada precoce da UTI a fim de reduzir custos, trata-se de algo gravíssimo. Haveria na empresa uma espécie de indústria da morte.
O depoimento foi suspenso por volta das 14h20 para almoço no momento em que senadores governistas reclamavam de que os colegas não deixavam o depoente completar as respostas.
Pouco antes, Renan avisou que transformara o depoente em investigado e que compartilharia com o Ministério Público de São Paulo as acusações que chegaram à CPI.
De modo geral, a Prevent Senior foi acusada de ganhar dinheiro ao estimular o consumo de medicamentos sem eficácia contra a covid-19 em troca de fazer um experimento com pacientes para servir aos propósitos políticos de Bolsonaro. A empresa e o depoente negam tal correlação, mas a CPI está convencida de que houve um casamento de conveniência econômica e política entre Bolsonaro e a Prevent Senior.
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