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Kennedy Alencar

OPINIÃO

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Lula vence Bolsonaro, mas debate não terá peso na decisão de voto

Reprodução/TV Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

29/10/2022 00h19Atualizada em 29/10/2022 00h42

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O debate da Rede Globo terá interferência praticamente zero na reta final da eleição. A dois dias do segundo turno, o Brasil assistiu a um debate truncado, com muitas interrupções e pouca capacidade de criar um fato que mova placas tectônicas na disputa presidencial.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se saiu melhor do que o presidente Jair Bolsonaro. Lula controlou melhor o banco de tempo e também soube ditar a pauta do que estava em discussão. Ou seja, Bolsonaro perdeu.

Logo na largada, Lula acuou Bolsonaro, que prometeu dar um salário mínimo de R$ 1.400,00 a partir de 2023. No entanto, Lula soube colocar o presidente na defensiva, indagando o motivo de não ter adotado correção do mínimo acima da inflação.

Com uma cola na mão, Bolsonaro tentou colocar Lula na defensiva, mas se deu mal. Bolsonaro afirmou que a propaganda do petista o responsabilizava por promessa de acabar com o décimo-terceiro salário e horas extras. Lula demorou alguns blocos, mas respondeu que o presidente deveria perguntar a Paulo Guedes, ministro da Economia e autor de propostas de retirada de direitos trabalhistas.

Bolsonaro tentou fugir do carimbo de mentiroso e divulgador de fake news. Passou o debate dizendo que Lula mentia. O petista rebateu: "O povo brasileiro sabe quem é o mentiroso". E alfinetou: "Tá descompensado".

Nesse momento, Bolsonaro tentou sair pela tangente. Repetiu a teoria falsa de que é perseguido pelo sistema. "O sistema tá todo contra mim", disse o presidente, afirmando que inclusive a TV Globo se opunha a ele.

Bolsonaro tentou, então, puxar o tema da corrupção. "O povo sabe quem roubou", disse Lula, lembrando o caso de imóveis comprados com dinheiro vivo por Bolsonaro e seus familiares.

Roberto Jefferson veio à baila. Bolsonaro tentou associar o ex-presidente do PTB a Lula, dizendo que Jefferson foi o delator do mensalão. Lula afirmou que Jefferson era "o pistoleiro dele [Bolsonaro]".

Outro tema em discussão foi política externa, mostrando que a agenda da discussão foi sempre ditada por Lula. O petista indagou por que o Brasil estava isolado no mundo. Bolsonaro nunca respondeu, em meio a interrupções de parte a parte.

O debate seguiu essa linha até o fim. Lula conseguindo ditar o que estava em discussão e insistindo nos temas de combate à fome, merenda escolar congelada em baixo valor e desempenho na pandemia.

Em vários momentos, Lula pedia desculpa e dizia que Bolsonaro era um presidente que não dizia o que faria. Foi ferramenta eficiente. Numa luta de boxe, podemos dizer que Lula venceu por pontos com certo conforto.

Nas considerações finais, Lula disse que queria ser "o próximo presidente da República para restabelecer a harmonia nesse país'. O petista investiu num discurso de união e geração de emprego e renda.

Com a palavra final, Bolsonaro apelou à facada de 2018. Agradeceu a Deus "por comandar o país num dos momentos mais difíceis da humanidade". E voltou à cantilena de aborto, família, drogas e comunismo. Falou para a bolha e ainda pediu para ser reconduzido ao cargo de deputado federal, do qual nunca deveria ter saído.

No frigir dos ovos, Lula tirou melhor proveito do debate e deverá derrotar Bolsonaro no domingo, como apontam as pesquisas confiáveis.