Guru de Trump e Bolsonaro, Bannon é preso acusado de "rachadinha" nos EUA
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Steve Bannon, ex-conselheiro do presidente Donald Trump, foi preso, nesta quinta (20), acusado de passar a perna em doadores de uma campanha pela expansão daquele muro vergonhoso entre os Estados Unidos e o México.
Ele e três associados teriam desviado parte dos recursos arrecadados para uso pessoal. Uma espécie de "rachadinha" que não envolve dinheiro público, como sua similar brasileira, que ficou famosa pelas mãos de Fabrício Queiroz. Mas que trabalha como a mesma filosofia: se é do coletivo, é nosso.
Não à toa, Bannon é conselheiro da família Bolsonaro e uma de suas referências políticas. Contribuiu na redação do primeiro discurso do presidente brasileiro proferido na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro passado, em Nova York. O tom do texto foi tão nacionalista que o próprio Trump, que falou a seguir, pareceu moderado.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) já havia dito, em 2018, que Bannon - de quem é fã - iria ajudar na campanha de seu pai à Presidência. Com ações na internet, claro. Já, em março do ano passado, durante a turnê de Jair pela capital dos Estados Unidos, Bannon sentou-se à sua esquerda em um jantar com nomes do conservadorismo na casa do embaixador do Brasil. Do lado direito, estava Olavo de Carvalho. Mais do que um gesto de respeito aos dois, isso atestava as influências do mandato presidencial.
Não deixa de ser irônico que uma parcela dos norte-americanos que defende um muro entre o seu país e o México tenha sido roubada por aqueles que a convenceram - de forma absurda e preconceituosa - que um muro ia evitar exatamente a chegada de "ladrões".
Vamos lembrar o que o então Donald Trump disse sobre a obra antes de ser eleito: "Quando o México manda seu povo aos Estados Unidos, eles mandam pessoas que têm um monte de problemas e trazem estes problemas para nós. Eles trazem as drogas, trazem o crime, são estupradores. E alguns deles, eu confesso, são boas pessoas. Eu iria construir um muro. E ninguém mais entraria ilegalmente. Eu faria o México pagar por isso".
Esse tipo de discurso, que choca a racionalidade, era diariamente distribuído pelo Breibart News, site de desinformação e de fake news alinhado à extrema direita, editado por Bannon. Nele, o estrategista sempre buscou formas de moldar os debates na esfera pública, trazendo-os para o seu campo ideológico. Guerra cultural, como vemos também por aqui. O ecossistema do ódio nos Estados Unidos, que teve no Breibert um farol, foi laboratório para vários outros países, inclusive o nosso.
Bannon também atuou na Cambridge Analytica, empresa envolvida no escândalo do roubo de dados de milhões de usuários do Facebook, utilizados posteriormente na manipulação do debate público. Saiu de lá em 2016 para trabalhar exatamente na campanha de Trump, pautando a escolha dos temas abordados e construindo discursos usados pelo então candidato.
Era uma das pessoas mais próximas ao atual presidente, cuidando de sua estratégia política, até sua demissão em agosto de 2017. Desde então, Trump se distanciou dele - mas não de sua linha ideológica ou de suas técnicas de "convencimento".
Depois disso, Bannon criou "O Movimento", organização para promover grupos políticos nacionalistas e a extrema direita fora dos Estados Unidos.
Hoje, discute-se o real poder de Bannon tanto na eleição de Trump quanto durante os primeiros anos de seu mandato. Há quem diga que o melhor marketing que ele fazia era de si mesmo. Mas é inegável o prestígio e, portanto, a influência que conta com grupos da alt-right americana e ultranacionalistas em todo o mundo, inclusive por aqui.
Para nós, fica mais uma vez a impressão de que as companhias da primeira-família e suas referências ideológicas não são as melhores. Sejam em Rio das Pedras, seja na terra do Tio Sam.