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Ex-conselheiro de Trump e guru de E. Bolsonaro é preso acusado de fraude

Do UOL, em São Paulo*

20/08/2020 11h00Atualizada em 20/08/2020 17h27

Ex-conselheiro de Donald Trump na Casa Branca e um dos maiores gurus da direita atual - inclusive tendo prestado consultoria informal ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e apoiado a campanha presidencial de Jair Bolsonaro (sem partido) em 2018 -, Steve Bannon foi preso hoje sob acusação de fraude.

A Procuradoria de Nova York indiciou Bannon e outras três pessoas - Andrew Badolato, Brian Kolfage e Timothy Shea - de enganarem doadores no esquema de arrecadação de fundos online "We Build The Wall ("Nós Construímos o Muro"). A motivação da campanha - que juntou mais de US$ 25 milhões (cerca de R$ 140 milhões) - seria arrecadar dinheiro para construir um muro na fronteira com o México, mas os acusados teriam usado os recursos para uso pessoal.

De acordo com a acusação, Bannon prometeu que 100% do dinheiro doado seria usado para o projeto, mas os réus usaram coletivamente centenas de milhares de dólares de uma maneira inconsistente com as representações públicas da organização.

Eles fraudaram centenas de milhares de financiadores capitalizando o interesse deles em financiar a construção do muro na fronteira e com o falso pretexto de que os recursos seriam gastos na obra
procuradora Audrey Strauss, do Distrito do Sul de Nova York

A acusação alega que eles falsificaram recibos, entre outras formas, para esconder o que realmente estava acontecendo.

Questionado sobre a prisão, Trump disse não saber nada sobre a campanha alvo de investigação. "Não sei nada sobre este projeto", disse no Salão Oval. "Não tenho contato com ele [Bannon] há muito tempo", acrescentou.

Estilo luxuoso e gastos pessoais

De acordo com a acusação, Kolfage ficou com US$ 350 mil dólares para financiar seu "luxuoso estilo de vida", e Bannon desviou US$ 1 milhão para uma organização sem fins lucrativos que pagou secretamente a Kolfage "e cobriu centenas de milhares de dólares de gastos pessoais de Bannon".

Os quatro detidos foram acusados de dois crimes: fraude bancária e conspiração para lavagem de dinheiro. Cada delito pode resultar em uma pena máxima de 20 anos de prisão.

Bannon deve comparecer nas próximas horas a uma audiência com um juiz federal de Nova York para a leitura das acusações.

28.jan.2017 - Presidente Donald Trump, chefe de gabinete Reince Priebus, vice-presidente Mike Pence, conselheiro sênior Steve Bannon, diretor de comunicações Sean Spicer e o assessor de segurança nacional Michael Flynn - Jonathan Ernst/Reuters - Jonathan Ernst/Reuters
Steve Bannon (em pé, com papéis na mão) participa de reunião com Donald Trump e membros da Casa Branca
Imagem: Jonathan Ernst/Reuters

Campanha de Trump e fake news

Steve Bannon comandava o site conservador Breitbart, cujo conteúdo dissemina informações duvidosas ou até mesmo falsas, e no segundo semestre de 2016 foi escolhido para liderar a reta final da campanha presidencial de Donald Trump, também acusada de promover fake news. Vencida a eleição, ele passou a ocupar um cargo importante de estratégia na Casa Branca, mas lá ficou por menos de um ano.

Combativo e contundente, Bannon era a voz de um conservadorismo nacionalista e pressionou Trump a cumprir algumas de suas promessas de campanha mais controversas, incluindo a proibição de entrada para alguns turistas estrangeiros e a saída do acordo de Paris sobre o meio ambiente.

Mas Bannon também entrou em conflito com outros conselheiros importantes, e seu perfil combativo às vezes irritava o presidente norte-americano. Ele foi afastado em agosto de 2017.

Guru da direita

Bannon é considerado um dos 'gurus' da direita no mundo. Ao longo dos últimos anos, ele fortaleceu laços com a extrema-direita europeia, como o italiano Matteo Salvini e a francesa Marine Le Pen, e se aproximou da família Bolsonaro.

Ele também tem conexões na ala ultraconservadora da Igreja Católica americana, que faz oposição ao papa Francisco.

Ao lado de Steve Bannon, presidente Jair Bolsonaro acompanha o discurso do embaixador brasileiro nos EUA, Sérgio Amaral - Alan Santos/PR - Alan Santos/PR
Bannon, com fone de ouvido, ao lado de Bolsonaro durante jantar em Washington
Imagem: Alan Santos/PR

Relação com a família Bolsonaro

Em outubro de 2018, Bannon declarou publicamente seu apoio a Jair Bolsonaro na campanha presidencial. "O capitão Bolsonaro é um brasileiro patriota e, acredito, um grande líder para seu país nesse momento histórico", disse ele à época, em mensagem enviada à agência Reuters. À BBC, afirmou que o então candidato era "brilhante".

A relação com a família Bolsonaro já havia começado antes, porém. Em agosto daquele ano, o deputado federal Eduardo Bolsonaro esteve nos Estados Unidos e se reuniu com Bannon. "Conversamos e concluímos ter a mesma visão de mundo", escreveu Eduardo na ocasião, postando uma foto com o americano.

Em março de 2019, Steve Bannon esteve entre os convidados de um jantar com o presidente Jair Bolsonaro em sua primeira visita oficial aos Estados Unidos como presidente do Brasil. Outro 'guru' da família Bolsonaro, Olavo de Carvalho, também estava presente. Na ocasião, Bannon disse ter ficado "incrivelmente impressionado" com a equipe do presidente.

* Com agências internacionais