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Leonardo Sakamoto

Horário na TV ou redes sociais: quem vai "eleger" o próximo prefeito de SP?

Eleições 2020: Debate da Band para prefeitura de São Paulo  - Reprodução
Eleições 2020: Debate da Band para prefeitura de São Paulo Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

08/10/2020 19h46

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Uma dúvida paira sobre as campanhas dos candidatos à Prefeitura de São Paulo: o horário eleitoral de rádio e TV, que começa nesta sexta (9), será determinante para o vencedor desta vez?

A questão não é simples. Desde que Jair Bolsonaro (sem partido) foi eleito à Presidência da República tendo 8 segundos e Geraldo Alckmin não foi nem ao segundo turno mesmo ostentando 5 minutos e 32 segundos, a estratégia para redes sociais e aplicativos de mensagens ganhou centralidade. Por outro lado, Fernando Haddad (PT) teve 2 minutos e 23 segundos, o que foi suficiente para que a população soubesse que era o candidato do Lula e empurrá-lo ao segundo turno.

O problema é que esta campanha é diferente da anterior, não apenas por ser municipal. O discurso antissistema erodiu diante da realidade, tanto que a desaprovação de Bolsonaro em São Paulo é de 46%, segundo o Datafolha. E a pandemia de coronavírus limitou as selfies com eleitores e os cafezinhos em botecos, escanteou a eleição para segundo plano nas preocupações dos cidadãos e alterou o tempo da campanha e seus espaços.

Considerando o horário eleitoral, que começa nesta sexta, como um ponto de partida, o prefeito Bruno Covas (PSDB) larga em segundo lugar, com 21%. Detém 3 minutos e 29 segundos - o maior tempo entre todos os candidatos. Celso Russomanno (Republicanos), que lidera com 27%, terá 51 segundos. Guilherme Boulos (PSOL), que está em terceiro, com 12%, contará com 17 segundos. E Márcio França (PSB), com 8%, terá 1 minutos e 35 segundos.

Os números são de pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta (8). Em comparação ao levantamento realizado entre 21 e 22 de setembro, Russomanno perdeu dois pontos, Covas ganhou um e Boulos cresceu três, descolando-se de Márcio França - que permanece com 8%. A margem de erro é de 3 pontos.

Nesse cenário, sai na frente não apenas quem tem recall, mas quem conta também com igreja grande pedindo voto e uma larga rede digital mobilizada. Russomanno, por exemplo, aposta nas redes bolsonaristas e nas da Universal, ao qual o seu partido é ligado, para se alavancar na periferia e compensar o tempo no horário eleitoral.

A campanha do coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) celebrou o resultado. Boulos dobrou sua estimativa e empatou com Covas no primeiro lugar da pesquisa espontânea - aquela em que não são oferecidas opções de nomes ao eleitor. Ambos marcam 10%, seguidos de Russomanno, com 3%.

Integrantes da campanha do PSOL apostam que as redes sociais vão ser mais decisivas na eleição do que o rádio e a TV. Eles não têm muita saída dado o exíguo tempo no horário eleitoral. E apontam que houve um forte aumento no engajamento de Boulos nos últimos dias, com um crescimento de mais de 50 mil pessoas no número de seus seguidores.

Um exemplo disso é que, nesta sexta, estreia das propagandas na TV, Boulos vai transmitir, ao vivo e sem interrupções, um dia de sua campanha, do momento em que acordar, passando por atividades externas, reuniões e caminhadas. O programa vai durar 24 horas, uma espécie de reality show eleitoral para compensar a falta de tempo oficial.

Ao mesmo tempo, Jilmar Tatto (PT) variou de 1 para zero na espontânea e de 2 para 1% na estimulada.

Integrantes da campanha petista minimizaram os números. Disseram à coluna que a expectativa é que mudarão quando Lula surgir no horário eleitoral em rádio e TV e no momento em que os eleitores que historicamente votam no partido souberem que ex-secretário de Transportes é o seu candidato. Um deles fez questão de lembrar que Boulos conta com quatro vezes menos tempo que Tatto.

Outro petista, próximo a Lula, diz que Tatto depende da imagem do líder petista e da preferência partidária. Mas o problema não seria esse e sim o desconhecimento sobre ele há pouco mais de um mês do primeiro turno. Em sua visão, esta será uma campanha curta e atípica e uma debandada pelo voto útil da esquerda deve acontecer - o que, neste momento, beneficiaria Boulos e França. E que, diante desse cenário, o ex-presidente ajuda, mas não faz milagre.

Ao que tudo indica, Lula concorda com isso. Em entrevista ao El País Brasil, afirmou, nesta quinta (8), que os quatro primeiros colocados em São Paulo têm recall eleitoral e estão nos meios de comunicação. Destacou que Jilmar Tatto está num partido forte, mas que é preciso saber se o partido vai convencer as pessoas que votariam na legenda a votar nele.

"O jogo está começando, vai começar a campanha de televisão nesta semana, e não é Lula gravando. Quem tem que ganhar as eleições é o Jilmar, preparar a narrativa para convencer o povo de São Paulo a votar nele", disse o ex-presidente.

Um tucano afirmou à coluna que, apesar de Bruno Covas contar com um latifúndio de tempo, 2018 mostrou que não se ganha mais eleição sem presença nas redes sociais, lembrando da flopagem de Alckmin.

E destacou que Arthur do Val (Patriotas), que estava com 1%, em setembro, agora chegou a 3%. "Pode parecer pouco, mas isso mostra que ele encontrou um caminho de aglutinar um nicho do eleitorado enquanto outra pessoa que disputa com ele diretamente, a Joice [Hasselman], permanece estagnada", afirma. A candidata do PSL se mantém com 1%. A situação pode mudar, a depender da aposta na força da TV vingar. Do Val terá 16 segundos. Hasselman, 1 minuto e 4 segundos.

No debate da TV Bandeirantes, no dia 1o de outubro, o ex-governador Márcio França tentou se apresentar como uma opção moderada. Ele tem recall da eleição ao governo de São Paulo, quando foi ao segundo turno com João Doria, e mais tempo de TV do que outros concorrentes diretos à esquerda - 1 minutos e 36 segundos. E conta com o apoio de seguidores de Ciro Gomes nas redes sociais - o PSB e o PDT estão coligados em muitas cidades nesta eleição.

A força do discurso de moderação é uma dúvida. Candidatos, como Covas, foram para cima do PT, bem como candidatos à esquerda bateram em Bolsonaro. Uma coisa é não haver espaço para um candidato antissistema em São Paulo, outra é desconsiderar a ultrapolarização política como um fato considerável na capital.

Globo, SBT, Record, CNN e Rede TV cancelaram os debates, alegando riscos trazido pelo coronavírus. UOL/Folha mantiveram o seu, com os quatro primeiros colocados. Nesse contexto, além das sabatinas dos veículos de comunicação, sobram poucos espaços para se mostrar. Espaços que não serão, necessariamente, bem aproveitados.

"Tem gente que faz campanha para as redes sociais achando que está dirigindo algo para a TV ou para um canal no YouTube", afirmou à coluna o assessor de comunicação de uma das campanhas. "Não basta você ser conhecido, tem que fisgar o eleitor com propostas claras e atrativas, lembrando que o eleitor tem um perfil muito mais amplo que o seu grupo de seguidores nas redes sociais. A menos que você queira falar apenas para a sua bolha. E se tornar prefeito dela."