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Celebração bolsonarista da chacina no RJ é alerta para o dia após a eleição
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Não é novidade que, após chacinas cometidas pela polícia ou pela milícia no Rio de Janeiro, perfis bolsonaristas nas redes sociais celebram efusivamente as mortes. Essa falta de respeito à Justiça e o apoio ao justiciamento com as próprias mãos é o mesmo motor que alimenta o risco de insurreição de apoiadores do presidente contra instituições em caso de derrota em outubro.
Desta vez, perfis afirmavam que o Bope e a Polícia Rodoviária Federal, responsáveis pela operação na Vila Cruzeiro que deixou, ao menos 25 mortos, nesta terça (24), ficaram devendo porque sobraram feridos vivos. De "morreu foi pouco" até "favela só têm bandido", há um orgasmo digital daqueles que não estão nem um pouco interessados em desmantelar organizações criminosas de forma inteligente, cortando fluxos de armas e de dinheiro. Querem a guerra.
E sobre Gabrielle da Cunha, moradora de 41 anos, morta na ação? Nas redes, a morte dela foi justificada com "pena, mas a guerra cobra seu preço" e "se tava por lá, boa gente não era". Essa última, aliás, é uma variação do "se levou bala é porque é bandido", que foi bem comum nas redes durante a Chacina do Jacarezinho, no ano passado. Ou seja, ser morta pela polícia é um atestado de culpa, substituindo a lei e a toga pelo gatilho da pistola.
A função de forças de segurança deveria ser investigar, prender e levar à Justiça as pessoas sobre as quais pesarem evidências de envolvimento com crimes. E ao ignorar suas funções, batem de frente com a Constituição de 1988 e qualquer um que seja responsável por sua efetivação.
O secretário da Polícia Militar no Rio, coronel Luiz Henrique Pires, ao culpar o Supremo Tribunal Federal pela situação na Vila Cruzeiro, dizendo que a decisão da corte que dificultou operações nas favelas durante a pandemia para proteger moradores criou uma migração de criminosos para o Rio, apenas reforçou o posicionamento do presidente. Jair culpa o STF até quando seu café fica frio ou quando escorre leite condensado na sua camisa.
Não só isso: bolsonaristas encaram a operação violenta desta terça como um recado das polícias do Estado e da União de que o STF apita menos do que pensa.
Se nos Estados Unidos, o Congresso foi alvo de ataque, por aqui será o seu vizinho na Praça dos Três Poderes. Não mais com tochas acesas ou fogos de artifício, como já fizeram bolsonaristas, mas com pessoas armadas em nome "de Deus, da pátria, da família e da legalidade".
Em meio a esse clima do "tá tudo dominado", muitos não hesitariam em atender a um chamado do "mito" se as urnas não entregarem o resultado que querem ouvir. E, quando vierem, muitos virão armados - seja porque a sua profissão garante porte de arma, seja porque Jair facilitou o porte e a compra de armas e munição.
A ideologia que substitui a política e a justiça pela violência como forma de resolver conflitos deixa uma montanha de corpos negros mortos em comunidades como o Jacarezinho e a Vila Cruzeiro. Mas também tem o poder de entregar o cadáver da democracia.