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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro terá que ir a debates se houver chance de Lula vencer no 1º turno

Bolsonaro lê cola nas mãos em debate de 2018 com palavras Lula, pesquisas e armas - Paulo Whitaker - 17.ago.2018/Reuters
Bolsonaro lê cola nas mãos em debate de 2018 com palavras Lula, pesquisas e armas Imagem: Paulo Whitaker - 17.ago.2018/Reuters

Colunista do UOL

31/05/2022 17h54

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Jair Bolsonaro afirmou que ainda não sabe se irá participar de debates no primeiro turno das eleições presidenciais. Teme que os outros candidatos queiram "todo o tempo dar pancada" nele. Mas se as pesquisas indicarem que Lula tem grande chance de levar no primeiro turno, ele não poderá se dar ao luxo de abrir mão da exposição dos debates.

A declaração foi dada, nesta terça (31), em entrevista ao apresentador Ratinho, na Rádio Massa FM.

A última pesquisa Datafolha apontou que Lula tem, hoje, 54% dos votos válidos (descontados brancos, nulos e indecisos) e, Bolsonaro, 30%. Faltam mais de quatro meses para o primeiro turno, ou seja, muita coisa pode e vai acontecer.

Mas se a inflação não baixar, a gastança do governo federal não causar o impacto esperado em popularidade e as campanhas de fake news não cumprirem seus objetivos, o atual presidente precisará de todas as armas disponíveis para forçar o segundo turno. Entre elas, a possibilidade de defender seu peixe em debates na TV.

Desde a redemocratização, Fernando Collor (1989), Fernando Henrique Cardoso (1994) e Luiz Inácio Lula da Silva (2006) também decidiram faltar a alguns debates quando estavam à frente nas pesquisas.

Após participar dos dois primeiros nas eleições de 2018, realizados pelas TVs Bandeirantes e Rede TV, Bolsonaro sofreu a facada de 6 de setembro. Com isso, não foi a mais nenhum no primeiro ou no segundo turnos. Acabou sendo acusado de usar o atentado como justificativa para não comparecer.

No dia 4 de outubro, por exemplo, enquanto ocorria o último debate no primeiro turno, na TV Globo, uma entrevista exclusiva com ele era exibida na TV Record.

A diferença daquele momento para este é que Jair estava em primeiro lugar nas pesquisas, precisava apenas administrar a vantagem. Agora, não mais. E, em caso de desespero, pode ter que aceitar comparecer para defender o seu, digamos, legado.

A outra opção a isso é simplesmente abraçar a tática do medo, incitando seus seguidores contra o STF e o TSE e aumentando as ameaças de não aceitar o resultado das urnas porque vozes em sua cabeça dizem que ele, na verdade, estaria na frente, mas os comunistas, os globalistas, os tribalistas, os illuminatti e os cavaleiros templários haviam conspirado contra a sua vitória, comprando institutos e usando chips 5G injetados através de vacinas para manipular pessoas.

Para participar dos debates já no primeiro turno, Bolsonaro defendeu, na entrevista a Ratinho, eventos com "perguntas pré-acertadas antes com os encarregados".

Segundo ele, isso serviria "para não baixar o nível". Mas permitiria que candidatos tivessem mais facilidade para evitar saias-justas e ensaiar as respostas. Hoje, nos modelos de debates realizados no Brasil, jornalistas, o público e os próprios adversários fazem perguntas.

A campanha de Lula defende um formato de pool, em que os debates são transmitidos por várias emissoras simultaneamente. Nos Estados Unidos, onde é adotado, cada debate aborda um pacote de temas previamente acordados, mas as perguntas não são combinadas.

Bolsonaro não se sente à vontade em um ambiente não-controlado - ambiente em que ser rápido, mostrar conhecimento técnico e ter calma ao ser contrariado em público é fundamental

Por exemplo, no último debate em que participou, o da Rede TV, além de bater-boca com Marina Silva, ele foi flagrado com uma "cola", tendo escrito à caneta na própria mão os assuntos que deveria tratar: "armas", "pesquisa" e "Lula".

Questionado, depois do debate sobre a cola, demonstrou irritação com o jornalista e saiu andando.