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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonarismo trata pobres do Rio como bandidos ao espalhar fake sobre Lula

Colunista do UOL

13/10/2022 11h01

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Lula usou um boné com as letras CPX (que significa "complexo de favelas") em sua visita ao Alemão, no Rio, nesta quarta (12). Para reduzir o impacto do evento de campanha, que arrastou uma multidão de moradores, o bolsonarismo passou a divulgar a mentira de que CPX significa "cupinxa" do Comando Vermelho. A propósito, cupincha é com "ch".

Essas três letras são adotadas largamente não só por moradores dos complexos do Alemão, da Maré, da Penha, entre outros, para se referir a esses locais, mas também por órgãos públicos. Mas quem não tem contato com aquela realidade pode comprar como se verdade fosse.

Para além da mentira política, o caso é grave porque a fake reforça o preconceito contra comunidades pobres do Rio, já tratadas como lugar de suspeitos e de bandidos por parte da elite fluminense. Para a fake bolsonarista, todas as vezes que alguém que mora nesses locais escreveu que é do CPX Salgueiro estava, na verdade, dizendo que é parceiro do crime organizado.

Essa fake tem o mesmo DNA de outra sofrida por Marielle Franco, executada em março de 2018 no centro do Rio, e de seu motorista, Anderson Gomes.

Enquanto as investigações analisavam se milícias, formadas por agentes públicos de segurança corruptos, estavam envolvidas no assassinato, as milícias digitais agiram com força para tentar assassinar a reputação da vereadora pelo PSOL.

Em resposta à comoção que tomou as ruas e as redes sociais, grupos e redes de extrema direita bombaram mentiras na forma de textos, vídeos e memes, tentando vender a ideia de que ela era casada com uma liderança do tráfico de drogas e teria sido eleita com a ajuda de uma facção criminosa - farsas que foram denunciadas dentro e fora do país.

Naquela época, a fake chegou a ser reproduzida pela desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Marilia Castro Neves, e pelo então deputado federal Alberto Fraga, através de suas contas em redes sociais. Agora, a fake está sendo bombada por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ou seja, pela própria campanha de Jair Bolsonaro, uma vez que o senador é um de seus coordenadores.

A mentira sobre o boné do petista está viralizando junto às redes bolsonaristas desde quarta porque sua distribuição ocorre dentro de uma narrativa que a campanha do presidente já estava construindo, de que Lula é um criminoso. A fake seria mais uma evidência disso. E no afã de passar por cima do adversário, o bolsonarismo acabou também atropelando milhões de outras pessoas, reduzidas a parceiros do crime.

A fake também cumpre um papel de desviar a atenção do fato de que além da multidão que Lula arrastou no Rio, ele também levou milhares de eleitores às ruas de Salvador. A velha e útil cortina de fumaça.

E, ao mesmo tempo, tentar ressignificar a desastrada visita de Jair Bolsonaro ao Santuário de Aparecida no dia de Nossa Senhora. Um cinegrafista foi atacado, uma pessoa vestindo vermelho foi perseguida, um padre foi criticado por pedir silêncio diante de uma tentativa de transformar uma missa em um ato de campanha. Bolsonaristas extremistas chafurdaram em Aparecida (SP), neste 12 de outubro, levando violência eleitoral para dentro de um dos maiores eventos católicos do país.

Um comportamento estimulado pela passagem de Jair, que não esteve na basílica como presidente da República, mas usou Nossa Senhora Aparecida para fazer um palanque eleitoral. Enquanto seus seguidores bebiam cerveja, ele colocou parte do corpo para fora do veículo em que estava para se promover enquanto as sirenes da polícia eram acionadas, um insulto a quem estava ali pela fé.

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