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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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Bolsonaristas confundem ação social com início da intervenção militar em SP

Colunista do UOL

20/11/2022 22h10

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Grupos bolsonaristas estão compartilhando vídeos de soldados do Exército montando tendas na Praça da Sé, em São Paulo, como indício de que a intervenção militar no Brasil está para começar. Contudo, as barracas são parte de um mutirão de instituições públicas e da sociedade civil que vai atender a população em situação de rua, nesta semana, na capital paulista.

"Vinte de novembro de 2022. A gente estava na porta do quartel, do Comando Militar do Sudeste, ficamos sabendo disso aqui e eu vim dar uma olhada. E é verdade. Eles montando uma base, as cabanas... Alguma coisa está acontecendo!", afirma um homem em um dos vídeos que circula em grupos. Bolsonaristas estão acampados em frente ao comando militar, que fica na zona sul da cidade, pedindo golpe.

"Os caras montando uma puta de uma estrutura, irmão. Normal, não é. Posso falar uma coisa? É para tremer a base. Praça da Sé, tomada pelo Exército. É hoje, irmão. O chicote está estralando. Isso não é uma ação comum, não", conclui, animado. A coluna teve acesso a três vídeos.

E ele tem razão, não é uma ação comum. O Exército é uma das 40 entidades que estão envolvidas na 2ª edição do "Mutirão de Atendimento às Pessoas em Situação de Rua - Pop Rua Jud Sampa", que acontecerá nos dias 21, 22 e 23 de novembro.

Ao todo, serão mais de 30 serviços oferecidos. Mas, entre eles, não estão o golpe de Estado ou a prisão do candidato eleito no segundo turno - demandas dos manifestantes bolsonaristas que acampam em quartéis e bloqueiam estradas.

Em grupos bolsonaristas, os vídeos são acompanhados de mensagens como "O Exército já montou acampamento: intervenção federal na Praça da Sé em SP".

"Não é a primeira vez que temos uma ação exatamente como essa na cidade, aliás já é a segunda vez neste ano que diversas frentes se unem pelo mutirão de atendimento à população em situação de rua", afirma Carlos Bezerra, secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.

"Intervenção militar? Só se for no diário das fake news produzido por mentes que não têm muito o que fazer na vida. A única vantagem dessa loucura é que só mesmo em uma democracia, a gente pode conviver com algo tão bizarro e ainda achar graça disso", avalia à coluna.

Coordenado pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região, o mutirão conta com instituições como a Prefeitura de São Paulo, o governo paulista, a Justiça do Trabalho, o INSS, as Defensorias Públicas do Estado e da União, o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Estado, a OAB, a Polícia Federal, a Cruz Vermelha, a Arquidiocese de São Paulo, entre outros do Estado e da sociedade civil.

De acordo com a defensora Fernanda Balera, do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública de São Paulo, o mutirão vai emitir documentos, regularizar cadastros de programas sociais e realizar atendimentos jurídico, de saúde e de assistência social.

"Um dos objetivos é assegurar o amplo acesso à Justiça às pessoas em situação de rua, de forma célere e simplificada", afirma Balera.

Os visitantes também poderão verificar oportunidades de emprego, ter assessoria para ações judiciais, ter acesso à vacinação de adultos e crianças, corte de cabelo, serviço para animais de estimação, entre outros. Ou seja, um centro de serviços de cidadania.

Após os vídeos serem distribuídos nas redes, o Comando Militar do Sudeste postou, na noite deste domingo (20), um aviso em sua conta no Twitter, de que está "realizando apoio logístico (40 barracas, apoio médico e emissão de documentos de serviço militar)" ao mutirão coordenado pelo TRF-3.

O que é útil para evitar celebrações indevidas de quem acampa em seu entorno.