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Pen drive de Eduardo Bolsonaro adapta Nina de 'Avenida Brasil' para 2022
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Se o deputado Eduardo Bolsonaro tivesse acompanhado a saga de Nina, na novela Avenida Brasil, teria poupado mais um vexame ao dizer que foi ao Qatar levar pe ndrives com vídeos sobre a "situação do Brasil".
Após ser flagrado curtindo o jogo Brasil e Suíça, no estádio 974, enquanto bolsonaristas desenvolvem pneumonia tomando chuva em atos golpistas em nome de seu pai, o deputado Eduardo Bolsonaro gravou um vídeo dizendo que foi ao Oriente Médio entregar vídeos a outros países. Para isso, mostrou um punhado de pen drives.
"Nesses pen drives aqui têm vídeos em inglês explicando a situação do Brasil. Eu espero que vocês não creiam que aqui só se fala em Copa do Mundo. Só para lembrar para vocês que a Fifa tem mais membros que as próprias Nações Unidas. A imprensa inteira está aqui", disse.
Imediatamente, o termo "pendrive" se tornou um dos mais comentados no Twitter, seguido de "Google Drive". Sim, porque a galera ridicularizou a justificativa do filho 03 do presidente da República, questionando se ele não conhece serviços de armazenagem em nuvem.
Há excelentes à disposição no mercado, com criptografia e tudo, garantindo segurança. E bem mais baratos que pagar uma passagem para ele e para a esposa, além de hospedagem e ingressos, em meio ao expediente do Congresso Nacional no Brasil. Sim, os deputados não estão de férias.
Voltemos dez anos no tempo. Tal como Eduardo Bolsonaro, o autor de novelas João Emanuel Carneiro ignorou a existência da tecnologia em Avenida Brasil e a personagem Nina, interpretada por Débora Falabella, virou motivo de chacota.
Ela havia fotografado a vilã Carminha (Adriana Esteves) com seu amante. Mas como Nina mantinha as imagens em papel, elas foram roubadas uma a uma pelos capangas de Carminha. O público questionou a razão de a mocinha não ter usado um pen drive, que já era popular em 2012, da mesma forma que a internet hoje se pergunta o porquê de Eduardo não ter usado a nuvem.
Na época, Carneiro chegou a pedir desculpas pela gafe. "Eu sou um analfabeto virtual. Tenho que mudar. Não sei comprar nada, nem pagar conta, nem baixar música pela internet. Achava que era uma pessoa normal, mas não sou", disse, na ocasião, em registro de Maurício Stycer, do UOL.
Não precisa ter assistido à Avenida Brasil para saber que há uma falha de roteiro na família Bolsonaro quanto à desculpa para ter aparecido num jogo no Qatar enquanto bolsonaristas radicais estão acampados na porta de quartéis pedindo golpe.
A humilhação foi ainda maior porque ao ver milhões de brasileiros se reapropriarem das cores da bandeira nacional e da camisa da seleção de futebol, grupos golpistas pediram para que todos trocassem o amarelo e o azul pelo preto nos dias de jogos. Eduardo apareceu de amarelo no estádio.
Outros criticaram quem torce para a seleção, fazendo festa com o futebol, enquanto os "verdadeiros patriotas" mantêm as vigílias da "primavera brasileira". Eduardo estava fazendo festa com um homem fantasiado de taça da Copa do Mundo no estádio.
Como disse um amigo jornalista que está cobrindo o futebol no Qatar, a família Bolsonaro deve ter que gravar esse tipo de cena várias vezes até conseguir um vídeo em que não apareça rindo da cara de seus seguidores.