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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Depoimento coloca Michelle como receptadora de joias surrupiadas da União

Colunista do UOL

25/04/2023 15h26

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Michelle Bolsonaro estava quase convencendo uma boa parcela da opinião pública de que não tinha nada a ver com o escândalo das joias árabes que foram surrupiadas do patrimônio da União pelo marido - esquecimento que era fundamental para suas pretensões políticas. Ficou no quase.

Depoimento de uma servidora pública do departamento responsável pela triagem de presentes oficiais apontou que a então primeira-dama recebeu, em 29 de novembro, no Palácio do Alvorada, o segundo kit de joias enviadas pela ditadura saudita. A apuração é do jornal O Estado de S.Paulo, responsável por trazer todo o escândalo a público. Em visita ao Congresso Nacional, ela confirmou que chegou até ela o pacote.

Vale lembrar que esse estojo de joias, avaliado em mais de R$ 1 milhão, entrou ilegalmente no Brasil usando o ministro Bento Albuquerque como mula de muamba. Não se sabe ainda se elas eram suborno ou propina.

A ele, soma-se outro kit de cerca de R$ 16,5 milhões barrado pela Receita Federal no Aeroporto Internacional de São Paulo e que continha um colar que seria destinado a Michelle, segundo Albuquerque. Depois, o ministro retirou o que havia dito.

Desde o início das acusações de descaminho e peculato, Michelle Bolsonaro tentou se descolar do caso, dizendo que não sabia de nada. Notas baseadas em "informações de pessoas próximas à ex-primeira-dama" pipocaram na imprensa, mostrando que ela estaria se sentindo traída pelo próprio marido. Com base no depoimento da servidora, essa "plantação de indignação" foi só jogo de cena.

A informação reforça o que já havia dito aqui, que a família Bolsonaro opera como um grande animal político com várias cabeças, uma Hidra. Três filhos parlamentares, um filho lobista, uma esposa articulada e carismática e o patriarca. Eles podem até brigar entre si, mas operam em conjunto.

O escândalo das joias árabes destaca também a importância do trabalho de servidores públicos que cumpram o seu dever e e não escondam os fatos, mesmo com o risco de represálias. Em Guarulhos, auditores da Receita Federal disseram não à pressão exercida por estafetas de Bolsonaro para reaver o pacote de R$ 16,5 milhões. Agora, em Brasília, a servidora revela informação fundamental sobre a ex-primeira-dama.

Confirmado o depoimento, Michelle volta ao centro do caso, agora como receptadora de produto surrupiado da União.