Leonardo Sakamoto

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Opinião

Zambelli e Salles vão ficando cada vez mais pesados para Valdemar carregar

Carla Zambelli foi a segunda deputada federal mais votada em São Paulo e Ricardo Salles, o quarto. Caso Jair Bolsonaro tivesse ganho a eleição, a consequente radicalização de um novo mandato presidencial manteria os dois como ativos importantes para o seu partido, o PL.

Mas a história foi outra por uma diferença de 2,1 milhões de votos. E, agora, ambos carregam problemas policiais ou judiciais que respingam no partido e precisam ser administrados pelo presidente Valdemar da Costa Neto.

Novos capítulos dessa novela vieram ao ar no início desta semana. Nesta segunda (28), a Justiça Federal no Pará tornou Salles réu, acusado de participar de uma organização criminosa que atuava no envio de madeira retirada ilegalmente na Amazônia aos Estados Unidos.

Em 2021, quando ainda era ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro, ele foi alvo de uma operação da Polícia Federal que apurou suspeitas de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando de madeira, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Por conta disso, demitiu-se do cargo. Mas o processo veio.

Ricardo Salles foi um dos ministros mais eficientes de Bolsonaro. Sem chamar atenção por comportamentos circenses, agiu para demolir a fiscalização, regras e leis, enquanto dizia ao Brasil e ao mundo que o meio ambiente estava protegido.

A eficácia silenciosa do ministro ficou clara em uma reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando Salles recomendou ao seu chefe aproveitar a atenção da imprensa aos mortos e doentes pela covid-19 para enfraquecer as regras de proteção ambiental. O famoso "passar a boiada".

Ele continua bem cotado entre círculos bolsonaristas, tanto que tem feito sucesso por sua atuação como relator da CPI do MST - criada para fazer barulho para ser consumido pelo agrobolsonarismo. E, por que não, espezinhar a base do governo Lula no Congresso.

Mas o passivo que carrega devido a ser visto como pária ambiental global em sua gestão fez com que se tornasse pesado demais para que Valdemar e Bolsonaro apoiassem seu pleito para ser o candidato do PL à Prefeitura de São Paulo em 2024.

A avaliação é de que a candidatura de Salles, visto como extremista em uma capital relativamente progressista, ajudaria Guilherme Boulos (PSOL), deputado mais votado pelo estado e segundo colocado na eleição municipal de 2020. Com isso, Valdemar e Jair vão com o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). O que irritou - e muito - o ex-ministro.

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Enquanto isso, Zambelli tem problemas com armas e hackers

Nesta terça (29), a Polícia Federal intimou Carla Zambelli a prestar depoimento sobre as declarações de Walter Delgatti Neto à CPMI dos Atos Golpistas.

Ele acusou a deputada de tê-lo aliciado para atacar a credibilidade das urnas eletrônicas. O hacker também afirmou que ela o apresentou a Bolsonaro, que o incluiu em esforços do Ministério da Defesa contra o sistema eletrônico de votação.

Em 2 de agosto, Zambelli havia recebido a visita da Polícia Federal em seu gabinete e em endereço residencial, em Brasília, em meio à investigação sobre a invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a inserção de um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes por parte de Delgatti.

Ela nega estar envolvida em crimes, diz que o valor pago a ele foi usado em serviços para o seu site e afirmou que vai cooperar com as autoridades.

Paralelamente a isso, o STF já havia tornado Zambelli ré por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo por nove votos a dois no último dia 21. Além de ser multada e perder o porte de arma, ela também pode ser presa e ficar sem o mandato.

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O motivo: em 29 de outubro de 2022, dia anterior à votação do segundo turno, perseguiu um homem negro com uma pistola em punho pelas ruas do rico bairro dos Jardins, na capital paulista, causando terror entre os pedestres e motoristas. Vídeos mostraram a deputada entrando em uma lanchonete com a arma apontada para o homem.

Aliados de Bolsonaro avaliam que o episódio prejudicou a reeleição do presidente (lembra dos 2,1 milhões de votos?), tal como o ataque de Roberto Jefferson com fuzis e granadas contra a PF, que resultou em dois agentes feridos.

Depois daquele episódio, a deputada passou a atuar em defesa de um golpe de Estado. Divulgou um vídeo, no dia 29 de novembro, em que incentivava generais a não reconhecerem o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atenderem às demandas dos que acampavam nas portas de quartéis pedindo um golpe militar.

"Dia 1º de janeiro, senhores generais quatro estrelas, vocês vão querer prestar continência a um bandido ou à nação brasileira?", afirmou.

Bolsonaro também tem uma sequências de BOs contra ele - de fomentar golpe de Estado, atacar o sistema eleitoral, contribuir com a morte de 700 mil pessoas na pandemia, vender joias dadas ao Brasil pelos árabes e ficar com a grana. Mas tem voto e grande influência, então Valdemar da Costa Neto engole e sorri.

Zambelli e Salles, por outro lado, vão ficando cada vez mais pesados mesmo em um partido de oposição majoritariamente bolsonarista.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL