Leonardo Sakamoto

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Opinião

Milei faz pela irmã o que nem Bolsonaro teve coragem de fazer por Carluxo

Apesar de ter sido eleito com um discurso agressivo contra a política tradicional, uma das primeira ações do novo presidente argentino Javier Milei, neste domingo (10), foi derrubar um decreto que impedia a nomeação de parentes em cargos da administração pública. Com isso, indicou a própria irmã, Karina, como secretária-geral de governo.

Não era surpresa para ninguém que ele faria isso, uma vez que Karina é sua conselheira mais próxima e a pessoa em que ele mais confia. Da mesma forma, não foi surpresa que seu discurso antipolítica naufragou antes mesmo de o seu governo começar, uma vez que ele precisa de votos desses mesmos políticos tradicionais no Congresso para governar e não sofrer um impeachment.

O partido que deve dar sustentabilidade a Milei é o de Mauricio Macri. Ironicamente, o decreto antinepotismo de 2018 derrubado pelo novo presidente foi publicado pelo seu novo aliado, Macri, que governou a Argentina de 2015 a 2019.

Bolsonaro afirmou mais de uma vez que um de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro, mereceria um cargo de ministro. Neste caso, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. O vereador carioca cuida de toda estratégia de comunicação digital do pai há anos e o ex-presidente atribui a isso parte de seu sucesso eleitoral.

Mas isso nunca aconteceu de fato, apesar do então presidente não ser impedido de fazer isso, ao contrário de Milei que teve que mudar as regras do jogo.

O Supremo Tribunal Federal editou, em 2008, a súmula vinculante número 13, que proíbe a autoridades públicas a nomeação de "cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau" para cargos de livre provimento "na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios".

Ela permite, contudo, nomeações de parentes a cargos no primeiro escalão sob a justificativa de que a função teria "natureza política".

Jair provavelmente foi aconselhado a não indicar Carlos a fim de evitar críticas após ter sido eleito prometendo romper com práticas da velha política. E nepotismo é vista como uma delas, apesar de permitido pela interpretação do STF.

Milei começou indo aonde nem Bolsonaro pisou, pelo menos oficialmente. Extraoficialmente, claro, o chamado "Gabinete do Ódio", formado por profissionais responsáveis por atacar críticos ao então presidente funcionou no Palácio do Planalto sob a influência do vereador.

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E se não fez isso na Presidência da República, o mesmo não pode ser dito enquanto era deputado federal. Recaem sobre Jair denúncias de que contratava como funcionários fantasmas de seu gabinete parentes de uma ex-esposa que devolveriam para ele parte dos recursos recebidos como salários, as chamadas "rachadinhas".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL