Mauro Cid foi sacrificado para tentar sobrevida a Bolsonaro e generais
Prova de que Mauro Cid não tinha intenção alguma de que sua conversa particular criticando a Polícia Federal e Alexandre de Moraes viesse a público foi seu desmaio ao descobrir que voltaria à cadeia. Cid é golpista, mas não é uma toupeira, sabia que publicizar aquilo teria apenas um prejudicado: ele mesmo.
Por outro lado, é grande o número daqueles que se veem como beneficiários do mimimi do tenente-coronel e já estão usando-o para tentar deslegitimar as investigações e as instituições por trás delas. Estes celebram o sacrifício involuntário de Cid em nome da causa, ou seja, passar pano ao golpe de Estado.
Além de Jair Bolsonaro, todos os que estão na fila da cadeia são potenciais beneficiados, como os generais Braga Netto, Augusto Heleno, o assessor Filipe Martins, o major Ailton Barros. E o bolsonarismo, em geral, que está tentando aprovar uma anistia a todos aqueles que atentaram contra a democracia.
Não se sabe quem foi o amigo traíra com quem Cid estava desabafando. Também não se sabe quem passou o áudio adiante. A conversa toda pode ter sido uma "encomenda" para transformar o tenente-coronel em cordeiro imolado sem que ele soubesse. Ou, diante do diálogo, viu-se uma oportunidade.
Após delatar o ex-chefe e ser abandonado por ele, Mauro Cid passou a viver uma vida de pária. Como já disse aqui, para alguém bolsonarista, com família bolsonarista, amigos bolsonaristas e colegas fardados bolsonaristas ser o principal delator do bolsonarismo é uma sentença de morte social.
Não precisa ser formado em psicologia para ver nas falas do tenente-coronel um desejo de vender uma versão alternativa do que realmente aconteceu na PF para limpar sua barra e a pecha de traidor com esse entorno bolsonarista. Dessa forma, o interlocutor se aproveitou dessa vulnerabilidade para moer e usar Cid.
O mimimi de Cid não vai mudar em nada a investigação e eventuais denúncias e condenações. As informações mais importantes já foram confirmadas por documentos, como minutas de golpe de Estado, por depoimentos, como os dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica e por quebras de sigilos.
A segunda queda de Mauro Cid, contudo, é um bom exemplo de como o bolsonarismo pode fazer absolutamente de tudo em busca de sua sobrevivência. Inclusive devorar os seus.