Leonardo Sakamoto

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Opinião

Bolsonaro 'obedece' orientação de Lula e se cala nos 60 anos do golpe de 64

No dia em que o golpe (ou "revolução", para os simpatizantes) de 1964 completou 60 anos, Jair Bolsonaro fez silêncio sobre o assunto em suas redes sociais. Ele, que é um dos maiores defensores da "Gloriosa", não discorreu sobre ela no X (antigo Twitter), no Facebook, no Instagram e nos seus principais canais no Telegram e no WhatsApp.

Preferiu falar da Páscoa e de sua passagem por Balneário Camboriú, onde seu filho 04, Jair Renan, tentará uma cadeira na Câmara dos Vereadores.

Ao que tudo indica, adotou uma estratégia de se preservar. Neste momento, ele é alvo não apenas de uma investigação sobre uma tentativa de um golpe de Estado entre o final de seu governo e o início da gestão de Lula, como também foi pego muquiando-se na Embaixada da Hungria, por dois dias após, ter seu passaporte apreendido por ordem judicial exatamente para não fugir do Brasil.

Evitou assim cutucar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, com sua vara curta.

O governo Lula orientou os seus ministros a não realizarem ou participarem de atos que tratassem dos 60 anos do golpe. O próprio petista disse que estava "mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 1964". Neste domingo, fez (um incômodo) silêncio sobre a efeméride.

A razão seria reduzir a pressão na relação com os militares devido à participação de parte deles na intentona fracassada de Jair. Uma inversão no sentido das coisas, uma vez que quem deveria temer são os generais, coronéis e almirante que foram cúmplices do golpismo e não o governo democraticamente eleito.

Mesmo assim, oito ministros trataram do tema em suas redes sociais (Silvio Almeida, Paulo Pimenta, Camilo Santana, Sonia Guajajara, Paulo Teixeira, Cida Gonçalves, Anielle Franco e Jorge Messias), além da ex-presidente Dilma Rousseff, presa e torturada durante a ditadura.

Durante os quatro anos em que esteve no poder, Bolsonaro festejou religiosamente o 31 de março. Mais do que isso: com ele, o Ministério da Defesa voltou a celebrar a data nos quartéis, com a justificativa de que ela "salvou" o Brasil, "sustentou a democracia" e "pacificou" o país. Textos que faziam apologia, contando mentiras sobre a natureza e a realidade da ditadura, eram lidos aos soldados.

Em 2022, último ano de sua gestão, o texto da ordem do dia do aniversário do golpe afirmou que o movimento de 1964 foi um "marco histórico da evolução política brasileira", sustentando a farsa de que, na ditadura, leite e mel corriam no meio fio das grandes cidades. O texto era do então ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, que depois foi candidato a vice na chapa de Jair e, hoje, corre o risco de ser condenado e preso por atuar como um dos arautos do golpismo.

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Mesmo que seja por outros motivos, é irônico que uma parte dos ministros de Lula ignorou a sua orientação, enquanto Bolsonaro "obedeceu" ao petista direitinho e também ficou em silêncio.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL