Leonardo Sakamoto

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Opinião

Voto bolsonarista por acusado de matar Marielle será lembrado na eleição

Faltaram 20 votos para a Câmara dos Deputados pular naquele alçapão que jaz no fundo do poço. Por 277 votos a 129, o plenário manteve a prisão preventiva do deputado federal Chiquinho Brazão (hoje, sem partido, ex-União Brasil) que havia sido decretada pelo Supremo Tribunal Federal. O colega é apontado como o responsável por ordenar a morte da vereadora Marielle Franco em 14 de março de 2018 e interferir nas investigações do crime.

Um dos grupos mais aguerridos na luta para libertá-lo foi o dos bolsonaristas. Eduardo Bolsonaro chegou a gravar um vídeo defendendo a soltura. E depois votou por ela, junto com aliados relevantes do ex-presidente, como Pastor Marco Feliciano (PL-SP), Ricardo Salles (PL-SP), Carla Zambelli (PL-SP), Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), Marcel Van Hattem (Novo-RS), Gustravo Gayer (PL-GO), Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), General Pazuello (PL-RJ), Osmar Terra (MDB-RS), Zé Trovão (PL-SC), Carolina de Toni (PL-SC), Mario Frias (PL-SP), Helio Lopes (PL-RJ), Chris Tonietto (PL-RJ), Luiz Phelippe de Orleans e Bragança (PL-SP), Otoni de Paula (MDB-RJ), Delegado Éder Mauro (PL-PA), Alberto Fraga (PL-DF), Bia Kicis (PL-DF), Abilio Brunini (PL-MT), Bibo Nunes (PL-RS), Alexandre Ramagem (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG), Carlos Jordy (PL-RJ), entre outros.

Cinco deputados do PL, onde está hospedada a maioria dos bolsonaristas, se abstiveram, e outros sete se posicionaram a favor de manter a prisão. No total, o partido entregou 71 votos em prol da soltura.

O bolsonarismo e setores do centrão venderam a ideia de que a libertação não tinha a ver com Brazão, mas era um recado ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes de que o Poder Judiciário não manda no Legislativo (um recado dado com o cadáver de uma vereadora e o de seu motorista, assassinados a sangue frio, diga-se de passagem).

Na verdade, os principais recados seriam à sociedade: 1) mandatos parlamentares servem sim para cometer e acobertar crimes, e o eleitor que se exploda; 2) mexeu com miliciano (grupo criminoso com o qual a família Brazão é suspeita de ter relacão), mexeu comigo; 3) quem mandou Marielle ser negra, de origem pobre e LGBTQI+?

A Constituição determina que mandatos são invioláveis civil e penalmente, com exceção de casos de prisão em flagrante por crime inafiançável. A Câmara dos Deputados tinha que, portanto, decidir se endossa a prisão preventiva decretada pelo relator Alexandre de Moraes e depois confirmada pela Primeira Turma do STF.

A vereadora carioca foi executada junto com seu motorista Anderson Gomes, no centro do Rio. As delações dos executores Ronnie Lessa e Élcio Queiroz levaram a Chiquinho, a seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, Domingos Brazão, e ao então chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, como mandantes. E podem ajudar a desvendar o envolvimento dos Brazão em outros crimes, inclusive de associação com a milícia.

O caso destravou apenas quando a Polícia Federal entrou de cabeça na história. E não era para menos: a investigação aponta que os irmãos tiveram aval de Barbosa de que poderiam mandar matar e depois ele garantiria que o país não descobrisse os verdadeiros responsáveis. Chiquinho e Domingos contam com poder político para interferir no curso das investigações e grana para se escafeder.

Muitos dos nomes da lista dos que votaram a favor da soltura de Brazão serão candidatos nas eleições deste ano. Só como exemplo: Éder Mauro, Abilio Brunini e Alexandre Ramagem são pré-candidatos às prefeituras de Belém, Cuiabá e Rio de Janeiro, respectivamente.

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O que o eleitorado, para além dos 20% do bolsonarismo-raiz, vai achar de candidato a prefeito, em 2024, ou candidato à reeleição à Câmara dos Deputados, em 2026, que vota pela soltura de alguém que é apontado como mandante de um crime bárbaro?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL