Campanha de Boulos avalia que Nunes fora do segundo turno é cenário real
Após o Datafolha apontar, nesta quinta (22), que Pablo Marçal (PRTB) ultrapassou numericamente Ricardo Nunes (MDB), com 21% a 19% na preferência do eleitorado paulistano, coordenadores da campanha de Guilherme Boulos (PSOL) afirmaram à coluna que a chance do prefeito ficar fora do segundo turno é real. O deputado tem 23%, empatado tecnicamente com os outros dois. A margem de erro é de dois pontos.
Para eles, Nunes estava agindo como se o primeiro turno fosse uma etapa protocolar a ser cumprida em direção ao segundo. Terá que, agora, disputar a eleição palmo a palmo com Marçal. Lembram que a esquerda e a centro-esquerda em São Paulo têm um piso histórico de cerca de 30%, que se divide em seus candidatos. O que vem sendo suficiente, portanto, para empurrar um de seus desde que o segundo turno foi instituído, em 1992.
Com exceção de 2016, quando João Doria liquidou a fatura no primeiro turno.
Questionado se o crescimento de Marçal não representa um risco para a própria candidatura de Boulos, lembrando que Jair Bolsonaro era visto por muitos petistas como um nome mais fácil para Fernando Haddad que Geraldo Alckmin no segundo turno de 2018, a campanha de Boulos saiu com o velho bordão de que "a premissa de uma campanha vitoriosa é não escolher adversário de segundo turno".
Na avaliação dos ouvidos pela coluna, o prefeito deve apostar na estratégia de TV, onde contará com um latifúndio de 6 minutos e 30 segundos devido à ampla coligação partidária, muito à frente da segunda maior fatia, a de Boulos, que terá 2 minutos e 22 segundos. José Luiz Datena (PSDB) contará com 35 segundos e Tabata Amaral (PSB), 30 segundos.
Marçal não terá propaganda eleitoral no rádio e na TV porque seu partido não tem representação no Congresso. Apostará nas redes sociais e no uso dos debates para produção de vídeos de campanha, estratégia que o impulsionou até aqui.
A alta de Marçal consuma o casamento de Nunes com Jair Bolsonaro, que o prefeito insistia em manter de "fachada", na avaliação da campanha de Boulos. O candidato do MDB deseja o piso dos votos bolsonaristas em São Paulo, mas evitar colar a imagem à do ex-presidente, uma vez que a rejeição a ele é maior do que a atribuída ao presidente Lula (PT) ou ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Nunes, que conta com redes sociais muito menores que as de Marçal, está ganhando a ajuda do poder de fogo digital do clã Bolsonaro, menos preocupado em reeleger o prefeito, aliado do PL na capital paulista, e mais em garantir que a ascensão de outro líder não rache a extrema direita, hoje conduzida por Jair, filhos e aliados.
O vereador Carlos Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro e o próprio ex-presidente bateram de frente com Marçal nas redes nos últimos dias, tendo a ajuda de nomes fortes do bolsonarismo, como o pastor Silas Malafaia e o influenciador Paulo Figueiredo. Nesta sexta (23), Marçal começou a fazer postagens sugerindo que sua eleição como prefeito vai ajudar a anular a inelegibilidade de Bolsonaro, visando a atrair o público do ex-capitão.
O Datafolha mostra que o empresário lidera entre os eleitores de Bolsonaro, com 44%, frente a 30% de Nunes. No início de agosto, ele tinha 29% e o prefeito, 38%. Entre os que se assumem bolsonaristas, Marçal subiu de 25% para 46%, enquanto Nunes caiu de 37% para 26%.
Por isso, para a campanha de Boulos, um dos desafios do deputado do PSOL nas próximas semanas será mostrar que Marçal e Nunes "são os dos lados de uma mesma moeda".