Letícia Casado

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Rede de apoio e corrida ao mercado: brasileiros relatam tensão na Bolívia

Taffny França estava em casa, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, quando viu notícias sobre a tentativa de golpe na capital La Paz. Cerca de 850 quilômetros separam as cidades e a situação não parecia alarmante, então ela nem se preocupou. Pouco tempo depois, foi para a academia. Estava vazia. Ela percebeu que a situação tinha mudado. Nos grupos de WhatsApp, colegas brasileiros já mostravam preocupação com o assunto.

"A orientação de pessoas que vivem aqui há mais tempo foi para se organizar em questões de comida e gasolina porque ninguém sabe como pode ser diante da tentativa de golpe de Estado", disse ela à coluna na noite desta quarta-feira (26). "Aqui em Santa Cruz de la Sierra não há policiamento, militares nem confusão nas ruas. Mas nos mercados tem muita gente fazendo compras, estacionamento lotado e carros nas ruas."

Natural de Caruaru, Pernambuco, Taffny é enfermeira e mora há um ano na Bolívia, onde cursa medicina. Diz que gosta da cidade, mas se mostrou surpresa com a corrida para evitar desabastecimento. Os colegas que moram há mais tempo já estão acostumados, afirma: é comum ter paralisações nacionais na Bolívia.

"Fecham as fronteiras, as ruas e estradas, e para tudo na cidade", diz Taffny. Ela diz que estava prevista uma paralisação para esta quinta-feira (27) por causa da falta de combustível e de dólar no país, mas foi suspensa.

Também estudante de medicina, Paulo da Mata já passou pelas experiências relatadas por Taffny.

"A verdade é que quem vive na Bolívia está acostumado com a instabilidade política e essa tentativa de golpe foi apenas mais um momento de tensão política no país. Estou acostumado com isso. Então medo não, apenas apreensão", diz ele.

"Nós estrangeiros temos uma rede de apoio consolidada para que evitemos passar apertos maiores", afirma.

Da Mata mora na Bolívia há quatro anos. Passou pela paralisação que fechou Santa Cruz de la Sierra por 36 dias em 2022. As ruas foram bloqueadas com barricadas, arame farpado e entulho. "Ninguém passa, ninguém sai. E fica muita gente armada, às vezes com o intuito de brigar por questões políticas."

Ele precisava chegar a Corumbá, em Mato Grosso do Sul, para pegar um avião para sua cidade, Belém, no Pará. Viajou 600 km para sair da Bolívia, "com carros fechando todas as avenidas e estradas. Até moto eu tive que pegar para poder sair do país".

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A tentativa golpista de ontem foi breve e sem derramamento de sangue. No início da noite, o ex-comandante do Exército e líder do movimento Juan José Zúñiga foi preso.

Em entrevista à Globonews, o embaixador do Brasil na Bolívia Luis Henrique Sobreira disse que cerca de 16 mil brasileiros vivem no país e que a embaixada não recebeu pedido de ajuda de cidadãos.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do que informava a coluna, Corumbá fica em Mato Grosso do Sul, e não em Mato Grosso. O erro foi corrigido.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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