Letícia Casado

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Reportagem

Malafaia reclama de traição de senadores e diz que crime comandará cassinos

O pastor Silas Malafaia fez um périplo por gabinetes do Senado, disparou ligações ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), trocou dezenas de mensagens com senadores e fez campanha nas redes sociais nas últimas duas semanas com o objetivo de barrar o avanço da legalização de cassinos e jogos de azar no Brasil. Não conseguiu.

O projeto de lei foi aprovado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado nesta quarta (19) por 14 votos a 12. Vai ser discutido pelos 81 senadores no plenário, mas ainda sem data marcada. "Se não tivéssemos feito pressão, ia ser 20 a 7 na CCJ", diz Malafaia à coluna.

Na avaliação do líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, o crime organizado vai se beneficiar com a legalização de cassino, bingo, jogo do bicho e corrida de cavalo, autorizados no projeto. "Como abrir um bingo em região dominada pelo narcotráfico? São eles que vão abrir, agora de maneira oficial. Vão dizer: 'valeu'."

Malafaia diz que o crime controla diversas áreas, de transporte a serviço de gás.

Quem vai controlar a jogatina no Brasil? Todo mundo sabe que é o principal fator para lavagem de dinheiro do crime organizado, narcotráfico, corrupção. A arrecadação tributária é menor do que o dano social (...) A jogatina é antiga no domínio do ilegal.
pastor Silas Malafaia

Na sala da CCJ, sentado ao lado do senador Magno Malta (PL-ES), Malafaia viu os cinco senadores do PL votarem contra a legalização de cassinos —incluindo Flávio Bolsonaro (RJ), que já deu declarações a favor do projeto. O pastor, que celebrou o casamento de Jair com Michelle Bolsonaro, diz que "se ele (Flávio) falou algo lá atrás, já mudou de posição".

Para pastor, texto traz "malandragem"

Durante a CCJ, o relator do projeto, senador Irajá (PSD-TO), disse que o texto é "conservador", pois impede a abertura desenfreada de casas de apostas pelo país.

Malafaia rebate: "O projeto não é só cassino. Essa malandragem deles para dizer que é um número muito pequeno (de empreendimentos): um por estado, dois ou três. São mil bingos. Lembrando que foi o governo Lula que baixou um decreto terminando com a questão do bingo, de tanta corrupção e safadeza".

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Em 2004, ainda em seu primeiro governo, o petista assinou uma medida provisória proibindo a exploração de bingos e de máquinas caça-níquel no país.

"É uma falácia tão bandida, tão inescrupulosa, que quem perde é a sociedade como um todo. O governo quer arrecadar, não está nem aí para a família", diz Malafaia

Malafaia responsabiliza a base do governo pela aprovação da matéria. No entanto, além do PT, o centrão também está fechado com o tema — incluindo aliados do ex-presidente Bolsonaro, como seus ex-ministros Sergio Moro (União-PR), Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, e a correligionária Tereza Cristina (MS). O centrão também votou pela legalização na Câmara antes de o projeto ir para o Senado.

O aliado de Bolsonaro diz que falta uma "direita séria", e que há "aproveitadores do momento enganando o povo".

Aquela direita vagabunda que se vende. Uma direita que se vende por cargos não é direita.
pastor Silas Malafaia

Questionado se a liberalização não seria justamente um aspecto do pensamento econômico da direita, Malafaia diz que o Estado precisa atuar em áreas essenciais, como a segurança pública. "Ou vamos liberar tudo do estado mínimo? A prostituição, a cocaína? Isso é diferente."

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Senadores "sem palavra"

Malafaia diz que três senadores disseram que iam votar contra a legalização e não compareceram à sessão, o que ele considera uma traição: Mecias de Jesus (Republicanos-RR), Marcio Bittar (União-AC) e Eliziane Gama (PSD-MA). O pastor diz que esses votos poderiam fazer a diferença, já que o placar de votação foi apertado.

"Eu estava com o presidente Bolsonaro quando ele ligou para o senador Bittar, do Acre, e perguntou se ia votar. (A resposta foi) 'Eu voto em quem o senhor quiser', mas ele não compareceu", diz Malafaia. A movimentação foi feita há duas semanas, segundo o pastor, quando ele estava em Brasília reunido com o ex-presidente na sede do PL.

À coluna, Bittar disse que estava fazendo exame e por isso não participou da sessão. "Sou contra o projeto", afirma, acrescentando que nunca conversou com Malafaia sobre o tema. "Meu voto contrário não é por pressão religiosa. Voto contra por achar que no Brasil as facções tomaram conta. Bolsonaro me perguntou como eu ia votar, eu já estava inclinado. Mas operei meu pé e hoje (ontem) tinha ressonância. Eu voto contra, votarei em plenário."

Malafaia diz que conversou antes da sessão da CCJ com Mecias de Jesus, que "disse que era contra, não apareceu". Já "a senadora evangélica Eliziane Gama cruzou comigo no gabinete do senador Magno Malta, estava presente na casa, é membro da Assembleia de Deus, e da CCJ, não apareceu".

À coluna, Eliziane diz que estava em reunião com a bancada feminina, mas que é contra o projeto: "Já debati várias vezes em plenário". Mecias de Jesus não respondeu.

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Estou falando de três. Por dois votos a jogatina passou na CCJ. Para ver o nível que temos de alguns senadores, que não têm palavra. A comunidade evangélica e católica nesses estados vai ficar sabendo disso.
pastor Silas Malafaia

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do que informava a coluna, Silas Malafaia é líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e não da Assembleia de Deus. O texto foi corrigido.

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