Letícia Casado

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PL do aborto: para aliviar imagem de Lira, aliados citam negociação com PT

Deputados de diferentes vertentes dizem que o projeto de lei para restringir o aborto legal no Brasil terá pouco peso na eleição para a sucessão de Arthur Lira (PP-AL), em fevereiro de 2025. Lira foi o principal alvo dos protestos nas ruas e nas redes sociais, contra o PL que ganhou forte repercussão desde a semana passada após votação do caráter de urgência.

Três fatores centralizam as análises sobre o impacto da PL Antiborto por estrupo na sucessão.

O primeiro é o fato de Lira ter pautado o tema após acordo com os líderes partidários. Ainda que a repercussão fora da Casa tenha sido negativa, internamente o gesto fez sentido com o que estava combinado.

Aliados de Lira destacam que o tema estava combinado inclusive com o PT. Como mostrou a Folha, a legenda atuou por votação "sigilosa" do projeto, apesar de o líder do governo, José Guimarães (CE), negar qualquer articulação do tipo.

O apoio a Lira pode ser traduzido na imagem do pronunciamento feito por ele nesta semana para minimizar o avanço da pauta na Casa. O alagoano se reuniu antes com os líderes partidários, que estavam ao seu lado no púlpito em que ele discursou.

O segundo ponto destacado por deputados é que o caso vai ser diluído com o tempo. Ainda faltam mais de sete meses para a eleição da mesa da Câmara.

O atual presidente da Câmara pretende fazer o sucessor depois de comandar a Casa por dois mandatos consecutivos. Sua reeleição, em 2023, contou com os votos de 464 dos 513 deputados.

O terceiro ponto trata de uma demonstração de força entre os Poderes. Como revelou a coluna, a iniciativa parlamentar foi uma resposta ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes por uma decisão em um processo.

A atuação de Moraes tem provocado embates principalmente com bolsonaristas. E, de maneira geral, o STF tem sido acusado nos últimos anos de legislar no lugar dos parlamentares.

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Do centro à direita

Ainda que o episódio tenha potencial de impacto limitado na eleição interna da Câmara, parlamentares afirmam que Lira "errou no tom" ao pautar a urgência do projeto, especialmente porque o foco estava negativo para o governo — a pauta da semana era o cancelamento da licitação de arroz importado e a suspeita sobre a empresa vencedora.

Para o cientista político Fernando Abrucio, da FGV-SP, a repercussão do tema do aborto tirou Lira de uma posição política de centro e o colocou à direita, ao tocar uma agenda conservadora com questão de gênero que custa caro para a classe média "e para a Faria Lima".

"Lira deixou o centro. Ele não fez o cálculo", diz ele. "A agenda do aborto é muito boa para conservadores enquanto você não muda a regra. Quando mudar, tem impacto. O grupo de Arthur Lira não pensou, calculou apenas os votos para a sucessão e se colocou em um dos lados."

Levantamento feito pela consultoria Quaest entre os dias 12 e 14 de junho —período entre a divulgação da votação da urgência no plenário da Câmara, a votação em si e os protestos nas ruas — mostra que a guerra digital foi amplamente desfavorável ao projeto nas redes sociais.

A consultoria analisou 1,14 milhão de menções nas redes. Desde total, 34% citavam Lira, sendo 89% de maneira negativa.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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