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Quem confia no coração de piriguete do centrão?
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Desde a Assembleia Nacional Constituinte existe uma relação simbiótica e tóxica entre o Poder Executivo e o chamado "centrão". Arrisco dizer que é a primeira instituição sólida criada pela redemocratização do Brasil, filha do pragmatismo com o toma-lá-dá-cá.
Criamos um presidencialismo de coalizão em que os mandatários invariavelmente vão jogar o bloco aos leões da opinião pública, mas sabem que é impossível governar sem ele.
Jair Bolsonaro, o primeiro presidente que é filho legítimo e criado pelo centrão, foi o que mais cedeu a ele. Certamente é o que menos confiança tem, já que conhece suas entranhas.
O presidente acaba de anunciar em uma live, mecanismo que utiliza para fazer comunicados oficiais e bravatas, que deve escolher como vice o general Braga Netto.
Aparentemente, não combinou com os russos, o centrão. Nos tempos atuais, deixar de avisar os russos é sinônimo de mau presságio. Talvez eles possam aniquilar o finalzinho da presidência.
A origem da expressão tem várias versões, mas todas remetem ao técnico da seleção de 1958 na Copa da Suécia, Vicente Feola. Ele teria explicado na prancheta o esquema tático para vencer a União Soviética.
Mané Garrincha seria encarregado de receber um passe de cabeça de Nilton Santos, driblar uma série de adversários e entregar na área para Mazola fazer o gol. Ao saber da tarefa, o craque teria perguntado se o técnico já havia combinado com os russos.
Estamos diante de uma situação muito semelhante. Combinar com o centrão uma campanha eleitoral é a mesma coisa que a seleção do Brasil combinar com os russos como vai vencer a Copa. São interesses absolutamente diferentes.
O centrão será governo com ou sem Jair Bolsonaro. Aliás, já tratou de fincar o pé também na candidatura de Lula, com Renan Calheiros, Eunício Oliveira, Omar Aziz e Paulinho da Força. Talvez consiga emplacar o vice, como fez com FHC, Lula e Dilma.
Todos eles apoiaram o "golpe de 2016", o impeachment de Dilma Rousseff. Mas note bem que não são golpistas, já foram absolvidos pela militância e sempre serão.
No governo Bolsonaro, o bloco conseguiu sua maior conquista de poder, o tal do "orçamento secreto", aberração que segue vigente. Dificilmente perderá poder num próximo governo, sabe que é imprescindível para a governabilidade porque pode atravancar o Congresso Nacional.
A força dos aparentemente moderados surge com o complicado sistema de comissões da Assembleia Nacional Constituinte. Em 1987 o nome é formalmente criado para o grupo de deputados com forte infiltração municipal e poucas paixões ideológicas.
O pacto federativo foi feito de forma a tornar os municípios altamente dependentes das emendas parlamentares. Por consequência, um dos maiores ativos eleitorais dos deputados e senadores é o tanto de emendas que conseguem levar aos municípios.
É o plano perfeito de perpetuação. O centrão não assume posições ideológicas de forma rasgada. Fica próximo do Poder Executivo usufruindo da premiação da fidelidade com emendas que garantem eleições de parlamentares.
Enquanto o país se digladia numa polarização tóxica e em debates políticos apaixonados que entram na irracionalidade, o centrão toca o barco administrativo e, assim, ganha cada vez mais poder.
Escolher um vice do centrão parece o caminho mais seguro para Jair Bolsonaro. Também pareceu um caminho seguro para Dilma Rousseff. O fato é que o centrão vai pular no colo de quem for vitorioso.
Diz o cancioneiro popular que coração de piriguete "te ama mas não larga as outras sete". A piriguete, como o centrão, sabe o poder que tem. Exatamente por isso tem coração grande, que entende todas as ideologias políticas.
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