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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Violência política é chocadeira de golpe

(foto de arquivo) Armas de fogo e material de propaganda neonazista confiscados na cidade de Kiel, na Alemanha, pertencentes a integrantes do grupo de extrema-direita Combat 18 (sigla que faz alusão ao nome do nazista Adolf Hitler) - Christian Charisius/Reuters
(foto de arquivo) Armas de fogo e material de propaganda neonazista confiscados na cidade de Kiel, na Alemanha, pertencentes a integrantes do grupo de extrema-direita Combat 18 (sigla que faz alusão ao nome do nazista Adolf Hitler) Imagem: Christian Charisius/Reuters

Colunista do UOL

11/07/2022 04h00

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Nos últimos anos, com a atenção dada à violência pelo uso de palavras ofensivas, parece que borramos a linha divisória entre o que deve ou não despertar nosso instinto de sobrevivência.

No episódio recente envolvendo o ator Will Smith e o comediante Chris Rock na cerimônia do Oscar, gente inteligente disse em rede nacional que os dois tipos de violência se equiparam. Não se equiparam e precisamos ter isso muito claro, principalmente na política.

Falar palavras violentas é uma coisa, ameaçar é outra, incitar animosidade estando em posição de liderança é uma terceira e cometer a agressão física ou atentado são versões mais graves.

A campanha política nem começou, mas já temos uma coleção preocupante de episódios de violência física. Pior ainda é a condescendência e busca de justificativas. Não há justificativa para atos políticos violentos, simples assim.

Todas as grandes lideranças políticas brasileiras estão num momento em que têm obrigação moral de ser enfáticas ao condenar toda e qualquer forma de violência ou incitação à violência.

Capitular sinaliza aprovação. Capitalizar sinaliza torpeza.

No final de semana o presidente Bolsonaro falou na Marcha para Jesus que está numa guerra do bem contra o mal.

O ex-presidente Lula foi além, agradeceu e elogiou uma tentativa de homicídio contra um homem que o xingava. O vereador Maninho, que jogou um empresário debaixo de um caminhão e passou sete meses preso, foi ovacionado. A vítima terá sequelas para sempre.

Atos de violência política são de diferentes naturezas. O mais fácil de imaginar é aquele em que o agressor julga defender seu ponto de vista ou grupo político com a ação, como fez Maninho.

Quando o clima político começa a ficar violento, é parasitado por personalidades perversas e oportunistas.

Pessoas que já tinham o desejo de praticar algum tipo de violência para sentir prazer ou querem se vingar de alguém não têm dificuldades de mimetizar qualquer discurso político para justificar. Têm uma saída moral e provavelmente terão apoio de um grupo.

Criminosos comuns também podem se aproveitar do ambiente de inúmeras maneiras. Num ambiente de medo, simular ataques contra o próprio grupo também potencializa as respostas e a adesão.

É a fórmula para sair da política e entrar na barbárie. A brutalidade e o arbítrio têm uma primeira vítima certeira, a democracia.

Há um raciocínio simplista em que seria possível dividir os atos violentos por grupos políticos, a depender do líder. Não é. Jair Bolsonaro talvez seja um dos políticos brasileiros com discurso mais agressivo na história. E ele é quem foi esfaqueado nas últimas eleições.

Os atos de violência começam a pipocar antes mesmo da campanha. Houve a invasão do lançamento do programa de governo de Lula, a agressão a Ciro Gomes no Agrishow, o drone com veneno sobre militantes lulistas em Uberlândia e a turba que agrediu pré-candidatos do Novo na Unicamp.

Agora tivemos uma sequência preocupante pela rapidez. Uma bomba caseira que não feriu ninguém por sorte no comício de Lula no Rio de Janeiro, um tiro contra o jornal Folha de São Paulo e o ataque ao carro do juiz que mandou prender Milton Ribeiro.

As medidas para responsabilização estão sendo tomadas, mas ainda não vemos ações para conter essa tendência.

Um líder político que acena para o caminho do confronto físico não vai contaminar apenas seus liderados, vai contaminar todo o ambiente político. Os tiranetes ou perversos que pregam agressão e eliminação física vão surgir a mando dele e contra ele.

Aliás, o da bomba do Rio de Janeiro disse à polícia que tentou explodir pessoas porque é contra a polarização política. Quando a gente acha que já viu tudo, vem uma dessas.

O ambiente de violência planta numa sociedade o medo, que é o pior conselheiro. Diante do caos, muita gente se sente protegida pelo arbítrio. Violência política é chocadeira de golpe.