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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Michelle é muito esperta em usar a Bíblia para provocar a feministolândia

Colunista do UOL

16/09/2022 07h41

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Na Live UOL de hoje (15), falei sobre a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que em discurso, no Rio Grande do Norte, disse que a mulher precisa ser "ajudadora" do marido.

"Aqui tem um homem talvez um pouco mais técnico, mas aqui tem uma mulher espiritual. Então, eu acho que se completa né? Tem que ser assim, minhas amadas. A mulher tem que ser ajudadora do esposo, não é isso? É a gente que aguenta né?", disse durante evento, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Com a fala, Michelle mostra sua esperteza em utilizar a Bíblia para provocar a feministolândia. Usa uma palavra que será interpretada superficialmente pela maioria, garantindo ataques dos que irão enxergar em sua fala a defesa da submissão por parte de uma mulher.
O termo usado pela primeira-dama está no versículo 18, do segundo capítulo de Gênesis: "E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele". E, como explica o portal de educação religiosa da Igreja Adventista, a palavra --traduzida do hebraico ezer-- nunca é usada na Bíblia para se referir a uma posição secundária ou subordinada, mas sim para se referir a alguém que está em condições de prestar o auxílio necessário. Para não deixar dúvidas sobre o significado do versículo, neged, termo traduzido pela expressão "que lhe seja idônea", significa 'equivalente', 'igual a' ou 'complementar'.

Michelle sabe pisar nos calos certos. Tem consciência de como vai ser interpretada e quer mostrar para o meio evangélico —com conceitos que permeiam o país culturalmente— que todos os valores de seu grupo são esculachados pelo progressismo que anda ao lado do adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Mostra-se esperta ao jogar seu discurso religioso para ser analisado no meio político, de forma descontextualizada, sabendo muito bem o que vai provocar: o sentimento de que "o outro lado" desdenha e ataca tudo o que é importante para o "lado deles". Uma estratégia da qual o bolsonarismo sempre se nutriu.

Na Live UOL de hoje, falamos também sobre a campanha "Paz nas Eleições", lançada pelo TSE, em parceria com a CBF; sobre a mulher do deputado estadual Soldado Fruet (PROS-PR), Tatiana Fruet, que agrediu integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre); e sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, que agora também acha que o "outro lado" está com o capeta.

Ao lado de Felipe Moura Brasil, debato os principais assuntos do país diariamente, das 17h às 18h, com transmissão ao vivo nos perfis do UOL no YouTube, no Facebook e no Twitter.