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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Só Lula consegue que progressistas justifiquem posição contra aborto

Colunista do UOL

29/09/2022 15h08

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Geraldo Alckmin e Lula merecem hoje todos os aplausos do mundo. Entregam aquilo que Jair Bolsonaro só prometeu aos conservadores: conter de maneira eficiente os avanços progressistas.

Eu, que sou contrária ao aborto, estou aplaudindo de pé o candidato a vice-presidente, cuja posição é fundamentada na fé católica que partilhamos. Considero que a lei brasileira é boa e abrange as dúvidas morais que pesam na minha consciência.

Fiquei mais feliz ainda que a declaração foi feita no sensacional SIMpodCRER podcast, do qual já participei e é apresentado por dois amigos queridos e profundos entendedores do universo evangélico. O jornalista Sérgio Pavarini e o pastor Will Carvalho, muito próximos de Marina Silva e apoiadores declarados da campanha de Lula, arrancaram a declaração contra o aborto de Geraldo Alckmin.

A diferença entre essa declaração e todas as outras é que não se ouve um pio de feministas ou de progressistas em geral.
Essa eficiência em conter qualquer questionamento de posições religiosas e conservadoras não é apresentada por nenhum outro candidato, só Lula mesmo.

Há duas semanas, fiz um artigo que apostava nessa linha de campanha. Ao colocar as feministas "no seu devido lugar", Lula ganharia campo entre os evangélicos.

Simone Tebet foi massacrada pelos progressistas nas redes sociais quando disse que o Brasil ainda é muito conservador para discutir a questão do aborto. É uma sabotadora do feminismo e linha auxiliar da ditadura do patriarcado.

Não adianta falar que é a única candidatura exclusivamente feminina de partidos grandes no Brasil. Representatividade importa desde que não seja Simone Tebet. Lula consegue transformar dois homens brancos acompanhados de uma tropa de homens brancos em símbolo de inclusão. Um fenômeno.

Ciro Gomes se meteu a dizer que, caso eleito, não pretende discutir aborto porque é um tema que divide o país. Mentes iluminadas do feminismo gourmet já foram às redes sociais dizer que ele tem sangue nas mãos.

É cúmplice do assassinato de mulheres periféricas, negras e indígenas, vaticinavam mulheres brancas que vivem na Europa. Mulheres ricas aplaudiam direto dos Jardins. Machistas não passarão!

Jair Bolsonaro não vamos nem comentar. Ele faz questão de se colocar como representante da pauta contrária ao aborto no Brasil embora não tenha se posicionado exatamente assim antes. De qualquer jeito, será sempre xingado pelos progressistas.

Ainda que ele defenda a pauta pró-vida com unhas e dentes, só promete algo que Lula efetivamente entrega, a contenção de todo e qualquer avanço dos progressistas. Com Bolsonaro, o progressismo continua diariamente sua militância.

Com Lula, é diferente. Além de não tratar a legalização do aborto como inegociável, os progressistas ainda se metem a arrumar motivo para Lula ser contra.

Muitos vieram me dizer que Lula tem direito de ser pessoalmente contra, mas defende discutir o tema e tratar como questão de Saúde Pública. Não é isso o que disse o vice. "O povo precisa ter todas as informações. Então, aborto, o presidente Lula é contra, eu sou contra. Ele foi presidente oito anos e não mudou lei nenhuma.", declarou Geraldo Alckmin.

Outros vieram com aquela argumentação da sexta série dizendo que ninguém é favorável ao aborto, mas o debate da legalização é outra coisa. Não foi o que disse Alckmin.

"O que é dever você fazer são políticas públicas de saúde. É preciso os jovens terem educação e informação até para não ter gravidez indesejada. E oferecer possibilidade para evitar, métodos contraceptivos. Não há hipótese e nem é tarefa do governo. Isso é assunto do Congresso Nacional e nem acredito que vá mudar nada da lei atual", explicou o candidato a vice de Lula (grifo meu).

Fui dizer isso nas redes sociais e vários progressistas me xingaram. Mas não xingaram Lula. É um candidato tentador para o conservadorismo cristão.