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Bolsonaristas que estão nas ruas deveriam dar ouvidos a Janaína Paschoal
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"O que é que essas pessoas que estão nas ruas querem?", perguntou repetidas vezes em um discurso de 18 minutos na Alesp a deputada estadual paulista Janaína Paschoal. A questão desafia completamente a lógica e a resposta ainda é uma incógnita.
Já está sendo investigado o financiamento ilegal do movimento. No entanto, precisamos reconhecer que tem muita gente iludida ali no meio.
Não falo dos manifestantes pagos e violentos, mas daqueles que se reúnem até agora pacificamente protagonizando cenas como marchar na chuva, canta o Hino Nacional para pneu, faz jogral e dancinha em grupos de senhoras, chora na porta de Quartel e pede ajuda até para os extraterrestres usando a lanterna do celular.
Sem esses, voluntários em sua maioria, o movimento não teria como persistir por tanto tempo. Quanto mais as pessoas ficam nas ruas, mais descoladas da realidade parecem se tornar.
Para o meu parceiro de bancada, Felipe Moura Brasil, falar a essas pessoas é um apelo maternalista. Ele não está errado, tanto a deputada como eu somos mães. Estamos tratando como adultos que deveriam conhecer as leis e arcar com suas responsabilidades? Talvez sim. Vai que adianta.
É possível entender os que pretendem tumultuar e ganhar com isso, oportunismo puro e simples. O advogado do presidente da República, Frederick Wassef, chegou a ir a um acampamento verbalizar a intenção de blindar o presidente da República com o movimento.
O silêncio que mantém as pessoas nas ruas à espera de ordens, como se fizessem parte de uma seita, demonstra que seria possível incendiar o país no caso de tentar responsabilizar Jair Bolsonaro por suas condutas na presidência da República.
Este é o resultado efetivo do movimento, mas não parece ser a intenção de boa parte dos envolvidos. Eles expressam não querer que Lula tome posse.
"Eu converso com as pessoas e o que elas dizem é assim: 'nós não queremos' - e aí utilizam todos os adjetivos que os senhores já conhecem - 'que essa pessoa assuma o poder'. Isso é um desejo juridicamente impossível. Não adianta ficar na rua 72 horas, 200 horas, 400 horas dizendo que não quer que o presidente que foi eleito - contra a minha vontade, eu não votei nele - mas que o presidente que foi eleito não quer que tome posse", diz a deputada.
Há uma espécie de pensamento mágico no ar. Muita gente imagina que o impeachment de Dilma Rousseff foi feito única e exclusivamente por passeatas. Ignoram toda a movimentação jurídica e política que durou meses. Passeatas podem ter legitimado essas ações, mas não as substituem.
Suponhamos que o desejo de quem está nas ruas seja uma ação de Valdemar Costa Neto ou do próprio Jair Bolsonaro questionando as urnas. As mesmas urnas em que o presidente perdeu a reeleição são as que deram uma vitória histórica no parlamento ao PL e a deputados conservadores. Vão abrir mão disso?
Ou as urnas funcionaram ou não funcionaram. A vitória de Tarcísio de Freitas em São Paulo, por exemplo, teria sido também uma fraude? Ou tudo foi fraude ou nada foi.
A outra alternativa é que essas pessoas desejem um golpe militar, aos moldes de 1964. "O Exército não pode tomar o poder, não pode. Isso não existe mais. Graças a Deus. Alguém acredita que as Forças Armadas vão cair no mesmo erro de décadas atrás para passar a vida tendo que se resgatar novamente? Alguém acredita verdadeiramente nisso?", pergunta Janaína Paschoal.
Parlamentares bolsonaristas têm insuflado as multidões nas ruas sistematicamente. Talvez muitas dessas pessoas tenham a ilusão de que serão tratadas como eles na hora de encarar suas responsabilidades. São, no entanto, cidadãos comuns.
"Estou vendo que pessoas boas, pessoas bem intencionadas, pessoas iludidas vão começar a ter problemas policiais e criminais por acreditar que podem tudo, quando a vida não é assim", alerta a deputada.
Quem está nas ruas deveria dar ouvidos à parlamentar.
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