Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É um tapa na cara da sociedade aumento do auxílio moradia dos deputados
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Enquanto houver otário, malandro não morre de fome. Defendo que essa frase passe a ser utilizada na bandeira nacional ou como lema do país. Um amigo tem uma versão mais elegante e cristã: "enquanto houver cavalo, São Jorge não anda a pé".
É assim que eu me sinto ao saber que nossos digníssimos representantes na Câmara dos Deputados tiveram a já nababesca verba de auxílio-moradia aumentada em 56%. Aliás, me sinto ainda mais otária quando constato que o país virou uma rinha de paquita de político enquanto essas coisas acontecem.
Diante de notícias assim, um país que tem vergonha na cara cobraria publicamente e de maneira incisiva seus políticos. Nós não. Haverá os que dirão que o aumento é bolsomínion porque foi legitimado por Arthur Lira, apoiador do ex-presidente. Haverá também os que alegarão que ninguém fazia isso quando o presidente era Bolsonaro.
Ou seja, pouco importa o que foi feito, se pode e deve ser revertido, quem precisa ser pressionado. Importa abstrair de qualquer solução prática para um problema e vestir o uniforme de paquita do seu político de estimação. Emburrecemos e estamos pagando um preço altíssimo.
Você ouviu falar durante as negociações do orçamento deste ano que precisávamos demais mudar regras para incluir os pobres. Depois o ministro Gilmar Mendes, do STF, deu uma decisão mudando essas regras e garantindo a inclusão dos pobres no orçamento.
A conversa continuou. Foi aprovada uma verba além do que era necessário para os pobres. Agora ouvimos do presidente Lula que o Brasil tem dinheiro sobrando para investir nos países irmãos. Nem parece o mesmo país que estava com a corda no pescoço por causa da herança maldita de Bolsonaro.
Antes que se discutisse qualquer coisa sobre os pobres, foi assegurada durante a transição um gordíssimo aumento para nossos nobres parlamentares. Vale lembrar que o maestro dessa ópera tem apoio do presidente Lula para sua reeleição, apesar de recém-saído do palanque de Jair Bolsonaro.
O presidente Lula havia defendido que pessoas com salário de até R$ 5 mil não deveriam pagar imposto de renda. Descumpriu a promessa. O PT foi rápido em inventar a fake news de que a alteração no imposto só poderia ter efeito no ano que vem, a tal da "anualidade tributária".
É uma manipulação inteligente. O princípio existe mas vale só para aumento de imposto, não para redução. É o mesmo princípio penal de que a lei não retroage, salvo em benefício do réu.
Enquanto pessoas que viraram zumbis políticos debatem essas questões de forma apaixonada e desvinculada da realidade, os políticos passam a boiada. Tomo a liberdade de comparar o tamanho da boiada com o imposto de renda do trabalhador.
O auxílio-moradia dos deputados passou de R$ 4.253 para R$ 6.654. Ele é destinado para os deputados que optam por não utilizar imóveis funcionais que estão à disposição deles, pagos pelo povo brasileiro.
Hoje, um deputado ganha R$ 39.293,32. Em abril, passará a ganhar R$ 41.650,92. Podemos entender o princípio legal do auxílio-moradia, mas é impossível compreender que ele seja necessário ou justo.
O deputado não paga imposto de renda sobre o valor caso comprove com recibo o valor do aluguel do imóvel. Assalariados que ganham mais de R$ 4.664,68 - ou seja, menos do que o auxílio-moradia dos deputados - estão na alíquota mais alta do imposto de renda retido na fonte, 27,5%.
Um deputado tem de desembolsar isso sobre o auxílio moradia só nos casos em que opta por retirar o valor em cash sem demonstrar que foi usado para moradia.
Segundo o IBGE, o rendimento médio do trabalhador brasileiro é de R$ 2.787, menos da metade do que um deputado ganha de auxílio-moradia.
É o pior momento para nossos poderosos concederem a eles mesmos mais privilégios pagos pelo povo. Fizeram mesmo assim e muito provavelmente não terão de voltar atrás porque não haverá pressão popular para isso.
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