Topo

Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula acelera no “nós x eles” e parece abandonar a ideia de pacificação

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT)  - CLÁUDIO REIS/ESTADÃO CONTEÚDO
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) Imagem: CLÁUDIO REIS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

06/02/2023 15h29

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A eleição acabou e o presidente da República se chama Luiz Inácio Lula da Silva. Parece que ele não foi avisado. Pode e deve descer do palanque rumo à pacificação social que prometeu. Faz, no entanto, o movimento inverso, repetindo os vícios do petismo.

Na cerimônia de posse do BNDES, o presidente contou duas mentiras. A primeira é que Cuba e Venezuela não devolveram ao Brasil o dinheiro do empréstimo feito pelo BNDES porque o ex-presidente Jair Bolsonaro cortou relações com os dois países. É mentira e Lula sabe.

Os atrasos começaram em 2018, ainda no governo Temer, muito antes que Bolsonaro assumisse. Se a postura de isolamento do ex-presidente é o que impedia a cobrança, passou da hora de fazer a cobrança agora que o presidente mudou.

A outra mentira é que a violência no dia 8 de janeiro se deveu à revolta dos ricos que perderam a eleição para ele, Lula, legítimo representante dos pobres. Caso fosse verdade, seria o maior sucesso mundial em redistribuição de renda. Em pouco mais de um mês, Lula teria produzido mais de 58 milhões de ricos no Brasil.

Ele sabe que teve apoio dos ricos brasileiros, de vários deles com declarações individuais, do setor bancário, industrial. Até carta dos mais famosos economistas brasileiros apoiando Lula a gente viu. É esse o pessoal que está contra ele?

Mentir, para político brasileiro, é o de menos. Fazem isso todos os dias. Pobres dos procuradores da AGU lotados no novo serviço de combate à desinformação sobre ações públicas do Governo Federal. Além dos devaneios dos aloprados bolsonaristas, agora têm na mira os discursos do próprio presidente da República.

O pior, para mim, é jogar gasolina no fogo de um país que está com seu tecido social esgarçado. Lula prometeu na eleição que faria a pacificação nacional e seria o presidente de todos os brasileiros. Se você me acompanha, já sabia desde o lançamento da candidatura que isso não aconteceria.

O presidente da República sempre colheu frutos suculentos do divisionismo social e do discurso do "nós x eles". Por que abriria mão disso quando encontrou o contraponto perfeito, Jair Bolsonaro?

Fazer esse discurso contra políticos razoáveis é mais difícil. O petismo precisou pintar Geraldo Alckmin como nazista. Até Marina Silva foi chamada pelos mais empolgados de "mãe do fascismo brasileiro". Muito melhor o bolsonarismo. A maior parte do que você disser sobre eles, por mais exagerada que pareça, vai ser verdade mesmo.

O truque que Lula repete com maestria é colocar no balaio do bolsonarismo e da extrema-direita qualquer um que o questione. É uma das formas mais eficientes de incentivar na sociedade o tipo mais burro de binarismo.

Os luloafetivos vão repetir o que faz seu ídolo, porém com muito mais agressividade, sobretudo nas redes sociais, onde agem em bando. Retratar como extrema-direita ou golpista qualquer um que criticar Lula se torna um esporte para os Che Guevaras de apartamento. Vez ou outra isso vai parar na imprensa.

Escolhem uma vítima por dia e vão todos para cima dela. Nem precisam do trabalho de criar argumentos, basta xingar bastante e inventar histórias que assassinem a reputação da pessoa. Exercitam o prazer de maltratar os outros e ainda fingem que é por causa de algo nobre, o debate político que jamais fazem.

Os bolsomínions usam os ataques para vestir a farda do vitimismo. Nunca são eles os atacados, sempre é alguém moderado. As vítimas dos dois grupos são sempre as mesmas, aquelas que são contra a polarização tóxica.

Ocorre que os ataques, sua ferocidade e a argumentação autoritária do petismo serão argumentos para a ideia de que o Brasil está acabando. E, diante do desespero, só nos resta recorrer a alguém como Bolsonaro. Enquanto isso, ele permanece exilado na Disney.

Lula teve e tem a oportunidade de fazer um governo de excelência, que pacifique o Brasil e nos coloque num caminho como nação. Optou por mais do mesmo: acordos com o centrão fisiológico e discurso divisionista incendiário. Os grupos populistas ganham com isso. Infelizmente, o Brasil perde.