Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Governo Lula precisa reverter lei da era Dilma que facilita lavagem de ouro
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Nenhuma tragédia humana é obra de um único gênio. Todas dependem de uma sequência de perversidades, cumplicidade e omissões para acontecer. Não é diferente o horror a que foram submetidos os yanomamis.
Na era da polarização tóxica, do binarismo imbecil e da simplificação intelectual, essa história virou uma espécie de lenda da Disney entre os justiceiros sociais de teclado.
De um lado estão os garimpeiros mal vestidos com suas camisas da seleção e gritando "mito, mito, mito" enquanto jogam mercúrio na água e saem matando os yanomamis. Do outro lado está um povo com a pureza de uma criança, que só pode ser salvo pelo movimento luloafetivo e suas hashtags.
É uma fantasia que tem substituído com sucesso a realidade, principalmente nas redes sociais. Ninguém gosta de coisas complexas e com nuances, melhor a simplificação grosseira. Além disso, ela dá a sensação de heroísmo a gente que não faz muito além de bajular político em rede social.
A realidade é muito mais complexa. Outro dia vi um post com fotos das cozinheiras do garimpo, que pediam auxílio do governo para poder deixar o Território Yanomami. Os chefes que as subjugam foram embora, elas ficaram para trás, como se fossem objetos.
Pessoas que compreendem nuances pensam assim. Adolescentes de 40 anos sustentados pela família discordam. Bradam a plenos pulmões a sinalização de virtude em rede social. O grosso da reação é que elas escolheram o garimpo e o bolsonarismo. A pena proposta varia entre aquela que for prevista em lei, caso exista, até deixar lá para morrer porque ninguém mandou ser bolsonarista.
É comprovado que o garimpo ilegal avançou muitíssimo durante o governo Bolsonaro. Aliás, é curioso o fetiche com a busca pelo ouro que o presidente sempre expressou. No livro "O cadete e o capitão: a vida de Jair Bolsonaro no quartel", meu falecido amigo Luiz Maklouf Carvalho conta que a paixão vinha do pai do ex-presidente.
Ele próprio chegou a ter problemas e anotações disciplinares pelas conversas fantásticas envolvendo garimpo e a ambição excessiva ligada ao acúmulo de bens. Não é um tipo de perfil profissional para militares e acaba contaminando as tropas.
Em toda sua carreira política, Jair Bolsonaro foi sistematicamente contra reservas indígenas. Na cabeça dele, esses territórios não devem existir, mas ser integrados às cidades.
Tudo isso é verdade. Nada disso justifica a simplificação grosseira que bota ideologia na cobiça pelo ouro. Na cabeça dos Che Guevaras de apartamento que guerreiam no Twitter, só o bolsonarismo favoreceu o garimpo ilegal. O PT é uma espécie de salvador da pátria que faz todo o possível para evitar isso.
Não é verdade, como comprovam os fatos, esses chatos que insistem em demolir as fantasias dos radicais binários. Conforme mostra hoje reportagem da Folha, um dos principais incentivos ao garimpo ilegal veio de uma lei feita por um deputado do PT e sancionada por Dilma Rousseff.
A lei de 2013 facilitou a lavagem de ouro ilegal no Brasil. Ela institui "legalidade presumida" para quem vende ouro no país e "boa fé" de quem compra.
Na prática, as DTVMs (Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários) autorizadas a comercializar ouro no Brasil não precisam apurar a origem do minério. Basta que um garimpeiro declare por escrito a legalidade do ouro, sem comprovação.
Dez anos depois, há 20 mil garimpeiros ilegais nas Terras Yanomamis. Sem a lei, a diferença é que eles não conseguiriam passar esse ouro adiante tão facilmente e com custo tão baixo. O negócio não seria tão atrativo como é.
O criador da lei participou da transição de Lula, na área de Minas e Energia. Lula daria um grande passo caso desfizesse a política petista nessa área.
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