Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Nikolas é o triunfo da perversidade na economia da atenção
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A performance grotesca de Nikolas Ferreira, deputado federal mais votado do Brasil, é a prova cabal de que a perversidade triunfa na economia da atenção. Estamos diante do desafio de virar esse jogo. Precisamos urgentemente compreender o mecanismo em que pessoas perversas fingem defender ideologias e ganham poder, prestígio e dinheiro.
Tentei analisar o discurso do deputado. É notória a perplexidade das pessoas e a tentativa de entender como alguém chega a um raciocínio desses. O discurso não faz sentido e é evidente que ele não está preocupado com isso, só executa um ato que choca e agride em busca da atenção que inevitavelmente terá. A questão é como agir para que essa atenção não seja premiada.
Ainda estamos tateando o universo digital. Compreender a diferença do debate analógico para o comportamento de redes, onde somos colocados num estado de manada o tempo todo, é chave para buscar uma solução.
Uma frase de Aldous Huxley, da era pré-redes digitais, ilustra bem como funciona essa mentalidade: "A maneira mais segura de preparar uma cruzada em favor de alguma boa causa é prometer às pessoas que elas terão a chance de maltratar alguém. Ser capaz de destruir com boa consciência, ser capaz de se comportar mal e chamar de 'indignação justa' é o cúmulo do luxo psicológico".
Nikolas Ferreira tenta - e consegue - se colocar como defensor de valores conservadores, como a família. É essa a indignação justa que avoca para acobertar suas verdadeiras atitudes. Justifica que age de maneira extremista para defender valores que são ameaçados por seus adversários políticos.
Ocorre que nenhuma das práticas dele leva à defesa real do que ele alega defender. O discurso e a performance não ajudam a defender rigorosamente nenhum valor conservador. Impossível que algo tão repugnante seja efetivo para defender a família ou as mulheres. Não é à toa. Como diz meu amigo Carlos Andreazza, é método.
Esse método consiste em não defender nada nem fazer nada construtivo. É justamente a dedicação ao oposto, a eleger uma pessoa ou um conjunto de pessoas para ridicularizar, agredir, desumanizar, destruir.
Fosse só isso, seria fácil contrapor. O pulo do gato dos perversos está em emular de forma simplista discursos que já são defendidos por grupos sociais. A ideologia é muito importante para esses grupos. Vira e mexe eles recebem recortes de vídeos em que os perversos dizem exatamente aquilo que pensam.
É por isso que relevam o que consideram exagero. Às vezes, os grupos chegam a minimizar como fato isolado ou até justificar a perversidade. Seria necessária para combater o discurso antagônico.
Na dinâmica analógica, as pessoas premiadas socialmente por defender um discurso são aquelas com excelência, confiabilidade e capacidade de colaboração. Elas é que promovem mudanças efetivas e, além de atrair atenção, precisam provar eficiência. Já na dinâmica das redes sociais, a única coisa premiada socialmente - com visibilidade, likes, deslikes e interação boa ou ruim - é conseguir atrair atenção.
É relativamente fácil perceber a marca da maldade naqueles que fazem um discurso ideológico oposto às nossas crenças. Muito mais difícil é perceber essas práticas em quem repete o discurso que nos agrada ideologicamente. Temos a ilusão de que aquelas pessoas estão defendendo a mesma ideologia. Não estão.
Aprender a dinâmica do mundo digital e a influência que tem sobre nossa psique é fundamental para separar o joio do trigo, sobretudo no nosso grupo ideológico.
Não importa o discurso que a pessoa faz, importam os métodos. Se os métodos são ridicularizar pessoas e grupos, perseguir, desumanizar, dar apelidos e incentivar ataques, estamos diante de perversos que simularão qualquer discurso para poder ter o prazer mórbido de destruir. Infelizmente, temos a ilusão de que estamos diante de um perfil influente para defender nossas ideias, daí a votação estrondosa do deputado.
Discutimos com seriedade se é necessário contrapor discursos como o de Nikolas Ferreira ou se ele deve ser ignorado. Defendo que devemos ir além do discurso e desse debate. A desumanização não pode ser tolerada, seja com a desculpa que for.
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