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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Obsessão de Lula com Moro prejudica o governo

Equipe de Lula diz que PF, sob o petista, salvou a vida de Moro, alvo do PCC - Telegram
Equipe de Lula diz que PF, sob o petista, salvou a vida de Moro, alvo do PCC Imagem: Telegram

Colunista do UOL

27/03/2023 18h37

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Lula se comparou a Nelson Mandela quando estava em campanha. Disse textualmente que estava disposto a promover a pacificação de um Brasil dividido, com o tecido social esgarçado, refém de uma polarização tóxica. Não é mais polarização política, somos um povo que desconfia moralmente de quem não partilha as mesmas visões de mundo.

"Eu não me incomodo mais com o fato da minha prisão. Porque eu fico olhando, fico vendo, o Mandela foi preso. E saiu para ser presidente da República. Ghandi foi preso e foi ele quem libertou um país do tamanho da Índia da Inglaterra. Luther King foi preso, e depois fez a luta que fez. Eu estou convencido que aqui no Brasil vai acontecer a mesma coisa.", disse o presidente Lula em 5 de setembro do ano passado. Muita gente acreditou, o presidente parece que não.

Na última semana, o presidente arrastou todo o país para a discussão da rivalidade altamente midiática entre ele e o agora senador Sergio Moro.

Primeiro, disse a jornalistas apoiadores do governo que queria se vingar. Despertou gargalhadas. No dia seguinte, foi divulgada a operação da Polícia Federal que constatou planos do PCC de passar a um novo nível de criminalidade organizada, aquela do tipo "plata o plomo" de Pablo Escobar. Dinheiro ou chumbo, dizia ele às autoridades. Eliminava quem atravessasse seu caminho.

Felizmente, a Polícia Federal do Brasil matou o plano no berço. Seria um desastre para o país se o PCC realmente conseguisse saltar a outro patamar. Uma das autoridades alvo do PCC era Sergio Moro.

O ministro da Justiça, Flavio Dino, responsável pela Polícia Federal, fez um discurso político que salvou a indiscrição anterior de Lula. Argumentou que a atuação da PF não vê cor partidária nem tem alvos ou aliados políticos. Os fatos são o que são, devem ser apurados e processados de forma isenta. Parecia resolvido.

O próprio Lula resolveu reacender a crise. Disse que Moro armou tudo. Os tradutores de político correram em socorro, tentando achar pelo em ovo e encontrar alguma justificativa possível. Não colou.

Seria algo plausível, embora cruel, caso Moro tivesse aparecido na imprensa com a história da ameaça do PCC. Ocorre que é uma operação da Polícia Federal, supervisionada por outros órgãos de Estado. Se é armação, é de todos. E a Polícia Federal do Brasil não é cambalacheira, é séria, como sabemos e deixou claro Flavio Dino.

Os tradutores de político argumentam que Lula tem o direito de querer vingança porque Sergio Moro foi parcial e isso foi efetivamente dito pelo STF. Ocorre que não é o que Lula prometeu na campanha, ele disse literalmente que agiria como Mandela.

Sergio Moro não é o único juiz que condenou Lula. Ele também foi condenado na 13a vara de Curitiba por Gabriela Hardt. Foi condenado no TRF4 pelos desembargadores Thompson Flores, Pedro Gebran Neto e Leandro Paulsen. No STJ, foi condenado por Reynaldo da Fonseca, Felix Fischer, Jorge Mussi e Marcelo Navarro.

Ainda há os ministros do STF que negaram habeas corpus a Lula: Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Luis Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen Lúcia.

Lula não ficou preso por decisão de Sergio Moro apenas, esteve na prisão por decisão de 9 juízes. Não conseguiu sair da prisão antes das eleições de 2018 por decisão de 7 ministros do STF.

A rivalidade Moro x Lula é alimentada pela imprensa e está no imaginário popular. Há quem diga que ele foi parcial e enganou os demais juízes, inferindo que os demais juízes são algo entre infantis e irresponsáveis.

Lula disse que agiria como Nelson Mandela, que ficou 27 anos preso injustamente e pacificou a chaga do apartheid. Por mais que seus aliados tentem justificar o comportamento, é a quebra de uma promessa em que muita gente acreditou.