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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Diversidade era para valer ou teremos mais um homem branco no STF?

Prédio sede do Supremo Tribunal Federal (STF) e a estátua da Justiça com as marcas da destruição - Pedro Ladeira/Folhapress
Prédio sede do Supremo Tribunal Federal (STF) e a estátua da Justiça com as marcas da destruição Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Colunista do UOL

06/04/2023 14h40

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O presidente Lula não se comprometeu a indicar uma mulher, um negro ou a primeira mulher negra para o Supremo Tribunal Federal. Eu, pessoalmente, não entendo que esse método seja inclusivo.

Concordo com o líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues, que analisa a questão menos pelos símbolos e mais pela prática. Na prática, promovemos inclusão se a visão de mundo do escolhido for inclusiva. Ele pode ser de uma minoria e contra a inclusão, isso existe.

A escolha de mulheres e negros para posições de destaque não garante inclusão de mulheres e negros, é mais simbólica do que prática. Não faltam exemplos recentes que não nos deixam mentir.

Eu não vou questionar que o presidente Lula escolha para o STF seu advogado pessoal, que lhe tirou da cadeia e está relacionado à narrativa enganosa de que não houve corrupção nos governos petistas. Confundir os exageros da Lava Jato com a existência de corrupção foi uma jogada de mestre. Para paquitas de político, pouco importa que muita gente tenha devolvido milhões ao governo e dito que foi fruto de corrupção.

Mesmo assim, não questiono o presidente. Se ele manda essa e ainda tem gente que se agacha, numa olimpíada nacional de capachismo, tem mesmo de seguir em frente. Eu faria. Se Bolsonaro indicasse Frederick Wassef e a reação fosse a mesma, ele teria feito. Enquanto houver otário, malandro não morre de fome.

Antes que alguma paquita de político - bolsomínion ou luloafetiva - lance a carta mágica da "falsa simetria", eu sei que Zanin e Wassef são diferentes. Também sei que Bolsonaro e Lula são diferentes. Igual seria a ação de indicar o advogado que defende criminalmente o presidente.

A imagem do STF foi monumentalmente abalada nos anos de bolsonarismo. Toda espécie de jogo sórdido de desinformação foi feita para levar a crer que a Suprema Corte era um puxadinho do petismo, agia apenas politicamente, se submetia a Lula e, sobretudo, perseguia Bolsonaro e os bolsonaristas. É uma narrativa que colou para muita gente, principalmente entre quem não faz ideia do que é ou como funciona o STF.

Agora o STF começa a tentar reverter essa crise de imagem e se aproximar do cidadão. Bem no meio disso, Lula pensa em mandar para lá, para ser integrante da Corte, seu advogado pessoal. Quem já via o STF como puxadinho do petismo vai se aferrar à posição e, se bobear, convencer quem não pensava isso mas também não sabe como o STF funciona.

Os Três Poderes funcionam num sistema de freios e contrapesos. Acirrar a opinião pública contra o STF deixa o Judiciário mais fraco. Isso é bom para o presidente da República, o contrapeso fica mais leve e ele mais livre e poderoso. Só que é excelente também para nossos probos políticos que circulam tanto no Congresso Nacional quanto nas páginas policiais, muitos deles réus no STF.

Compreendo a manobra política, mas agora temos algo importante a tratar. Diversidade e inclusão não podem ser perfumaria, discurso para dar dinheiro a influencer ou sinalizar vitude. Tem de ser algo sério e definitivamente não está sendo tratado dessa forma.

Quando interessa bater em adversários, perseguir críticos ou sinalizar virtude, se adota o discurso de que colocar mulheres e negros em posições de destaque é a coisa mais importante do mundo. A reação contra qualquer questionamento é implacável.
Mas, quando interessa atender a vontade de Lula, esse axioma é relativizado.

Quando as ações seguem esse padrão, fica claríssimo que inclusão e diversidade não são a coisa mais importante. A prioridade é usar esse discurso para ações de marketing. É a era do justiceiro social do tipo Justo Veríssimo.