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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ataques em escolas deixam alunos e pais em pânico

Colunista do UOL

11/04/2023 17h15

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A série de ataques e ameaças de ataques em escolas está deixando pais e alunos em pânico. Passou da hora das nossas autoridades realmente pararem de praticar o oportunismo em que são viciadas para levar alguma coisa a sério.

Se você tem filhos, já sabe o frisson que se tornou o grupo de mães no WhatsApp. O medo é sempre o pior conselheiro e, pelos casos que eu presenciei, parece ser o único.

Todo problema complexo tem uma solução simples e errada, diz uma frase que povoa a política nacional. Já há baciadas deste tipo de solução para a chaga social que apenas começamos a conhecer.

Meu filho tem 11 anos. Ele e os amigos estão passando o recreio procurando e treinando rotas de fuga no caso de alguém ir armado. Se você tem filhos, provavelmente deve ter ouvido a mesma história. É uma das coisas mais doloridas imaginar que, para a geração dele, escola é isso.

Entre os pais, muitos se preocupam com a necessidade de ensinar sobre os perigos da internet para as crianças. Sinceramente, talvez os adultos precisem muito mais das aulas, principalmente no momento grave em que vivemos.

Conheço pessoas que têm filhos e, nessa altura do campeonato, não sabem o que são os adoradores de Taucci, o significado da máscara de caveira, a representação do 20 de abril, a socialização em torno dos edits de massacres. É algo que deveriam aprender para ontem, parte do mundo em que os filhos vivem e informações básicas para tentar entender esse inferno em que nos metemos como sociedade.

Hoje fiquei estarrecida que os oportunistas do bullying e do caos têm tido sucesso em usar massacres em escolas para engajar. Pior que isso, aproveitam para desinformar e disseminar pânico, obviamente fingindo lutar contra discurso de ódio. Subiram uma hashtag para dizer que o Twitter é conivente com massacres.

Pessoas desinformadas sobre o mundo digital, impressionáveis ou emocionalmente instáveis embarcam facilmente nessa. Passam a achar que uma rede social tem sido conivente com esse tipo de conteúdo e que a presença dele nas redes pode efetivamente ser controlada.

Esse conteúdo está em todas as redes abertas há muito tempo, de forma explícita e velada. Ter regras melhores poderia ajudar.? Poderia, mas o problema não é a rede, é uma sociedade que banalizou a desumanização e tem produzido jovens para quem a vida faz pouco sentido.

Meu amigo Deni Getschko, o pai da internet brasileira, tem uma frase excelente sobre essa tentativa de conforto emocional que é culpar a internet por tudo. "A internet possibilitou uma visão da sociedade, é um espelho da sociedade. Vemos com mais clareza ações humanas que antes talvez fossem menos visíveis. Se olha para esse espelho e não gosta, quebrar o espelho não resolve. Qualquer nova abordagem legislativa na área deve verificar o que está quebrado e o que é passível de consertar. Digo isso porque em geral as ferramentas de conserto que temos são anteriores ao mundo digital e não levam em conta algumas características da internet".

As redes podem ter acelerado a tragédia, mas massacre em escola só ocorre em sociedades doentes, que banalizaram a desumanização. O outro não é um ser humano, cuja dignidade é inerente à existência e inegociável. Sempre depende.

Não falamos de princípios, falamos de pessoas. Se é do grupo político oposto, pode fazer bullying, perseguir, ameaçar, ridicularizar, pedir demissão. Temos legitimado esse tipo de comportamento na cena pública enquanto o pessoal se preocupa em censurar show de standup.

Diante de uma realidade tão complexa, houve canalha politizando a questão. Primeiro a esquerda colocou na conta do bolsonarismo. Agora a direita brasileira, eterna vanguarda do atraso, diz que foi Lula entrar no poder para esse inferno começar.

As crianças não importam, os pais não importam, o país não importa, o horror não comove. Não são pessoas, são narrativas usadas para bajular o político de estimação e justificar o apedrejamento das pessoas de quem não se gosta.

Não são os games, as redes, a internet. Somos nós que precisamos de princípios e valores sólidos, que não mudem a depender do interlocutor. A maravilha da internet é que ela nos dá exatamente o que pedimos. Essa também é a maior desgraça da internet, nos dar exatamente o que pedimos.