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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Flávio Dino se destaca na polarização sem chinelagem

Flávio Dino, ministro da Justiça do governo Lula, e Sergio Moro, senador pela União Brasil-PR - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo e Pedro França/Agência Senado
Flávio Dino, ministro da Justiça do governo Lula, e Sergio Moro, senador pela União Brasil-PR Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo e Pedro França/Agência Senado

Colunista do UOL

09/05/2023 19h39

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O ministro da Justiça, Flávio Dino, virou hit nas redes sociais mais uma vez. É algo que tem se tornado recorrente e o coloca num novo patamar entre as lideranças de esquerda.

Ele consegue navegar no clima da polarização tóxica sem ficar refém da chinelagem, subindo o nível do debate na medida do possível. Estamos na era da apoteose da superficialidade e ele parece ter encontrado a fórmula para ganhar relevância sem perder o respeito.

Hoje, a escolha dos rivais foi precisa e a substituição da agressividade pela leveza foi estratégica. Não temos como saber se foi uma estratégia pensada ou feeling, mas funcionou.

O ministro da Justiça encontrou um meio de não ser refém da chamada "bancada hashtag". Esse é o apelido dado aos parlamentares que atuam principalmente por meio de lives e polêmicas nas redes sociais. Eles são suprapartidários e nocivos para o debate adulto na política.

O enfrentamento com o senador Marcos do Val virou um hit. O parlamentar se apresenta publicamente como especialista em inteligência com formação nos Estados Unidos. É também um hit em redes sociais.

Em vez de jogar no tabuleiro estabelecido pelo opositor, Flávio Dino se saiu com uma frase que promete fazer história na política: "Se o senhor é da SWAT, eu sou dos Vingadores". Colocou no debate uma leveza que estraçalha qualquer pretensão de rivalização séria.

Repetiu a estratégia com o senador Eduardo Girão, também muito efetivo na dinâmica das redes sociais. "Rir não é pecado. Rir é bom. Aconselho o senhor a rir. Riso não é crime, riso é bom", disparou. É uma forma inteligente de desmontar estratégias de ataque.

Também se saiu com estratégia do embate com o senador astronauta Marcos Pontes. "Eu espero que seja difundida essa verdade de quem viu. De todos os brasileiros e brasileiras, apenas ele viu e afirma que é redonda e eu confio na palavra do senador Marcos Pontes", respondeu.

Para o embate sério, escolheu Sergio Moro, uma opção inteligente. Os argumentos consistentes foram direcionados ao ex-juiz da Lava Jato, não a agitadores de redes sociais.

Obviamente a atuação luloafetiva nas redes sociais tenta reduzir tudo à mesma chinelagem. Aqueles famosos posts em que alguém "humilha" a outra pessoa, reduzindo debates sérios a tretas virtuais.

Mas a escolha do tom com cada interlocutor foi decisiva. A ironia ficou para uns e a seriedade ficou para outros. O ministro da Justiça, que já foi juiz, escolheu o tabuleiro em que pretende fazer os enfrentamentos políticos. Rivaliza com o ex-juiz da Lava Jato mas opta pela ironia com a "bancada hashtag".

Levar a sério o que é sério parece uma decisão natural, mas não tem sido. Debates de baixo nível têm sido a tônica da política nacional. O ministro mostra que não parece disposto a jogar esse jogo.

O irmão de Flávio Dino, Nicolao Dino, teve atuação em consonância com a Lava Jato. Foi um dos autores do pedido da cassação da chapa Dilma-Temer em 2017, na equipe de Rodrigo Janot. Também foi o primeiro escohido na lista tríplice para Procurador-Geral da República no governo Temer, mas não foi nomeado pelo presidente, que escolheu Raquel Dodge, a segunda mais votada.

Na lógica da polarização tóxica, essa seria uma cartada de mestre para ser hit nas redes sociais. Ela não veio e provavelmente não virá.
Estamos diante de uma nova liderança nacional de esquerda, que já começa a dominar o ecossistema da sociedade digital. Resta saber até que ponto será abraçada pelo petismo.