Topo

Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Saiba o que o ChatGPT diz sobre Zanin no STF

29.abr.22 - Lula mostra documento com a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU entre seus advogados Cristiano Zanin e Valeska Teixeira - Ricardo Stuckert/Divulgação
29.abr.22 - Lula mostra documento com a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU entre seus advogados Cristiano Zanin e Valeska Teixeira Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

Colunista do UOL

02/06/2023 18h01

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Algumas pessoas temem que sejamos substituídos pela Inteligência Artificial e essa discussão acendeu depois do lançamento do ChatGPT pela OpenAI. Como isso aconteceria é a questão.

A tendência é imaginar que a Inteligência Artificial passaria a ser capaz de substituir funções humanas. Existe uma outra camada de pensamento, muito explorada pelo meu amigo Álvaro Machado Dias, neurocientista e professor da UNIFESP, a algoritmização do pensamento humano.

Isso já é visto, de certa forma, nos debates polarizados em redes sociais, que são mediados por algoritmos. Sem perceber, somos treinados, como ratos de laboratórios, a pensar nessa dinâmica, restringindo nuances e criatividades do debate público.

Resolvi colocar à prova a tese usando o caso da indicação de Christiano Zanin para o STF. Somos capazes de debater além dos parâmetros dos algoritmos ou já estamos adestrados o suficiente para nos restringir aos limites do debate que uma máquina produz?

Muita gente usa o ChatGPT como oráculo, coisa que ele não é. Usei o sistema colocando um contexto e pedindo uma conclusão. Digitei o seguinte:

Atue como o Cidadão Brasileiro GPT e avalie se é certa ou errada a indicação de Christiano Zanin para uma cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Lula, levando em conta as seguintes informações:

1. Requisitos para indicação ao STF: Brasileiro nato (Christiano Zanin é brasileiro nato), escolhido dentre cidadãos com mais de 35 e menos de 70 anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

2. Quem indica: o presidente da República, que deve cumprir os princípios constitucionais da administração pública- legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

3. Christiano Zanin tem 47 anos de idade, foi advogado pessoal do presidente Lula durante a operação Lava Jato, em que o presidente chegou a ser preso e depois foi solto devido à anulação das condenações pelo STF. Também atuou na campanha presidencial de Lula, que pagou R$ 1,2 milhões pelos serviços.

Resposta do ChatGPT: "Considerando as informações fornecidas, a indicação de Christiano Zanin para uma cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Lula apresenta alguns pontos de preocupação. Embora ele atenda aos requisitos básicos de ser brasileiro nato e ter a idade adequada, sua proximidade como advogado pessoal de Lula durante a operação Lava Jato e sua participação na campanha presidencial podem levantar questionamentos sobre sua imparcialidade em casos relacionados ao ex-presidente ou à operação em si. A reputação ilibada e a imparcialidade são pilares fundamentais para um ministro do STF, e a avaliação cuidadosa desses critérios é necessária para garantir a independência e a confiança no tribunal.

No entanto, é importante destacar que a decisão final sobre a indicação cabe ao presidente da República, desde que ele observe os princípios constitucionais da administração pública, como legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Portanto, é crucial que o processo de seleção seja transparente, criterioso e priorize a competência técnica e a imparcialidade, a fim de preservar a integridade do STF e o fortalecimento do sistema de justiça no Brasil".

Fiz então outro comando: "Atue agora como Cidadão Brasileiro GPT que apóia a indicação de Christiano Zanin ao STF."
Resposta: "Como Cidadão Brasileiro GPT, é válido destacar que a indicação de Christiano Zanin para uma cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Lula pode ser considerada uma escolha adequada. Ele cumpre os requisitos constitucionais, sendo brasileiro nato e possuindo a idade dentro do limite estabelecido. Além disso, Zanin é reconhecido por seu notável saber jurídico, adquirido ao longo de sua trajetória profissional. Sua atuação como advogado pessoal de Lula durante a operação Lava Jato não deve ser vista como um impedimento, mas sim como um fator que enriquece sua experiência e perspectiva sobre o sistema judiciário brasileiro. A diversidade de visões e experiências é essencial para uma composição plural e representativa no STF, contribuindo para uma justiça mais equilibrada e inclusiva em nosso país."

Fiz então o comando oposto: "Como Cidadão Brasileiro GPT, expresso minha reprovação em relação à indicação de Christiano Zanin para uma cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Lula. Embora ele possua a cidadania brasileira e esteja dentro da faixa etária exigida, a sua estreita relação como advogado pessoal de Lula durante a operação Lava Jato levanta sérias dúvidas sobre a sua imparcialidade em casos envolvendo o ex-presidente ou relacionados à referida operação. A independência e a reputação ilibada são pilares fundamentais para um ministro do STF, e é crucial que as indicações sejam baseadas em critérios técnicos e éticos, preservando a confiança e a imparcialidade do tribunal. A nomeação de Zanin, neste contexto, pode comprometer a integridade do STF e minar a confiança da população no sistema de justiça do país."

Temos visto algo de diferente no debate público? Não. E não é porque não exista ou porque o ChatGPT condense todo tipo de ideia humana.

Hoje, por exemplo, na Live UOL com Fabíola Cidral, nosso mestre Ricardo Kotscho trouxe duas outras questões de bate-pronto:

1. O que Lula ganha com essa indicação?
2. Por que indicar Zanin agora e não na próxima vaga, a de Rosa Weber, o que acomodaria politicamente melhor a situação?

Há diversas outras questões pertinentes como essa que, infelizmente, estão escapando ao debate público e deveriam ser a espinha dorsal das discussões. Nós é que precisamos decidir se faremos os debates importantes para uma sociedade humana ou nos deixaremos adestrar por algoritmos.