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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Daniela do Waguinho e o machismo na política

O prefeito Waguinho e a ministra do Turismo, Daniela Waguinho - Reprodução/Redes Sociais
O prefeito Waguinho e a ministra do Turismo, Daniela Waguinho Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Colunista do UOL

12/06/2023 17h21

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Se estivéssemos na década de 1980, os esforços do marido para defender publicamente o emprego da mulher seriam vistos como românticos. Ainda mais porque ele faz isso em pleno 12 de junho, nosso Dia dos Namorados. Ocorre que estamos em 2023.

Em décadas passadas, muitas piadas revelavam o que as pessoas realmente pensavam das mulheres no espaço público. "Entrei no avião. O comandante era uma mulher" era piada. Havia quem fosse às gargalhadas, inclusive mulheres. Era a forma de revelar como se sentiam diante da situação. Hoje simplesmente não pode ser piada porque ninguém vai rir nem entender.

Isso não significa, no entanto, que as pessoas estejam confortáveis com a presença de mulheres em espaços públicos. A forma natural de determinadas interferências mostra que existe uma diferença real de tratamento.

O nome eleitoral de Daniela Carneiro, Daniela do Waguinho, é um estandarte da diferença de olhar que temos para homens e mulheres. O marido Waguinho, prefeito de Belford Roxo, é o mentor político da mulher. Até aí, se pode justificar a escolha do nome.

Ocorre que a mão inversa inexiste. Mesmo nos casos em que as mulheres foram fundamentais para que seus maridos estejam na política, eles não são denominados "Fulano da Fulana". Imagine o ridículo caso um deles tentasse a estratégia. Seria visto como algo menor.

Agora isso se estende para a disputa envolvendo o Ministério do Turismo e o União Brasil. O nome da ministra tem sido problemático desde o início, devido às ligações públicas com integrantes da milícia carioca. Agora que há problemas com maioria no Congresso e uma disputa interna com o União Brasil, o problema definitivamente escalou.

O deputado Celso Sabino, do mesmo partido, despontou como nome preferido para a pasta. É evangélico, foi tucano, se diz nos bastidores que seria capaz de acomodar interesses de Arthur Lira, presidente da Câmara.

Quando o deputado se coloca em campo mirando o ministério, quem sai em defesa do posto não é a ministra, é o marido dela. "Celso Sabino é um frouxo. Inicialmente, queria o Ministério da Integração, mas não teve coragem de peitar Davi Alcolumbre. Depois, quis as Comunicações e também ficou de fora. Agora, está indo para cima da Daniela, uma ministra mulher. É um machista. Beijou a mão do Bolsonaro e agora quer ser ministro do Lula?", atacou Waguinho.

Foi ele quem saiu pela imprensa dando entrevistas e dizendo o quanto o casal arriscou por apoiar Lula no segundo turno. Chegou até a argumentar que a mulher é uma indicação pessoal do presidente, inferindo uma semelhança com a situação de Simone Tebet, que não tem nada de parecida.

Imagine que a mulher de qualquer dos ministros de Lula ou de outro presidente fizesse movimentação parecida. Seria vista como algo natural? Mesmo que ela fizesse parte da classe política, seria ridicularizado. O marido passaria a ser visto como fraco politicamente, dependente de defesa externa.

Isso não pesa sobre a figura feminina. Talvez porque seja exatamente essa a imagem geral sobre mulheres. Estão na política como um jabuti em cima da árvore, alguém botou ali.

É possível dizer que Daniela do Waguinho não só aceita a situação como desfruta dela. O quanto gosta só ela é capaz de dizer, mas é fato que se beneficia tanto da posição quanto da possibilidade de brigar sem ter de sair para o atrito, colocando o marido no fogo cruzado.

A questão, no entanto, não é o que Daniela do Waguinho pensa do atrito partidário que vive e da própria dinâmica conjugal. Falo aqui de como a política brasileira e também a sociedade vêem a situação em que o marido tutela a mulher poderosa. Infelizmente, ainda é algo da maior naturalidade, mesmo décadas após deixar de ter graça nas piadass.