Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Com polarização, eleição de 2022 vira terceiro turno de 2018
Nunca uma eleição presidencial esteve tão polarizada. As pesquisas de opinião mais recentes consolidam essa percepção. Nos quatro cenários apresentados pelo Datafolha não há quase nenhuma mudança na intenção de voto (estimulada) dos dois primeiros colocados: Lula (PT) tem 43% e Bolsonaro (PL), 26%, em qualquer dos cenários.
A terceira via vem se espremendo cada vez mais. Há pouco espaço de convencimento e de manobra para atrair votos a candidatos que não sejam o presidente Jair Bolsonaro ou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nessa arena de combate entram também o antipetismo e o antibolsonarismo, calcados na rejeição a cada um. Em ambientes assim, é provável que o embate se sobreponha ao debate. Bolsonaro está novamente em desvantagem. Sua rejeição continua alta: 55% dos eleitores disseram que não votariam "de jeito nenhum" em Jair. Outros 37% disseram o mesmo sobre Lula.
Por outro lado, os dois candidatos na dianteira têm experiência em gerir o país. Considerando essa característica, é possível que vejamos abordagens concretas do que um fez e o outro não fez, baseadas em políticas públicas e impactos reais da ação de cada um. O governo de Bolsonaro não tem sido bem avaliado.
Lula aparece 21 pontos percentuais à frente de Bolsonaro em um segundo turno. Para se aproximar do candidato petista, o atual presidente só tem uma saída: suavizar a crise econômica e social dominantes no país hoje. Há pouco tempo para isso, e os meses passados mostraram pouca aptidão do governo em sanar crises.
O dilema é justamente esse: o bolsonarismo gosta de crises. Essa foi a tônica de sua atuação nos três anos de governo. Apostaram que operar no caos é mais vantajoso porque é possível impor outras agendas que ficam encobertas diante da confusão e do medo. É uma linha de atuação que cria ou aprofunda um problema para se apresentar como a própria solução.
Quanto mais tempo passa, menos essa estratégia se mostra eficaz. Há a memória desse fracasso e a vida real, que se impõe em fome, em mortes, em desemprego. A tendência é piorar. O contexto mundial não favorece o Brasil e o país não tem um plano coeso. Além disso, a população responsabiliza o governo federal pela dificuldade em sair das crises e não confia em Bolsonaro: 82% desconfiam total ou parcialmente no presidente.
Nas últimas semanas, Jair reconquistou parte de um público que já era seu, usou o antipetismo a seu favor e conseguiu diminuir a diferença entre ele e Lula. O petista parece ter alcançado o seu teto, mas a vantagem de Jair tende a se estagnar. Sua melhora neste momento eleitoral seria esperada. Bolsonaro detém a máquina do Estado, está em plena campanha e ao mesmo tempo ocupa a cadeira presidencial.
Bolsonaro ganhou fôlego entre evangélicos, classes A e B, moradores das regiões sul e centro-oeste e de 60 anos ou mais. Precisaria aumentar o desempenho em grupos que mais o rejeitam: as mulheres, os jovens, os nordestinos e os mais pobres.
Faltam a Jair habilidade, competência, confiança e atitudes concretas. Mas a vitória de Lula não está garantida. Tudo ainda pode acontecer.
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