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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com mimimi de castrado, Bolsonaro mostra desespero em discurso

9.fev.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante cerimônia de lançamento do programa "Adote 1 Parque" - Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo
9.fev.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante cerimônia de lançamento do programa "Adote 1 Parque" Imagem: Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

05/03/2021 09h26Atualizada em 05/03/2021 09h26

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Depois de almoçar com embaixadores da região do Golfo, e aprender com o representante do Kuwait que o Brasil é o maior exportador de produtos agrícolas para aquele país e um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, o presidente da República e capitão reformado confessou que foi castrado e que por isso não pode fazer o que quer.

Num processo de grande aprendizagem, também ficou sabendo que houve aumento nos preços dos itens da cesta básica, mas que o Brasil alimenta mais de um bilhão de pessoas no mundo. Mas que "podia ser pior".

Como aluno brilhante dos embaixadores, o ex-deputado federal por 27 anos não deixou claro o que gostaria de fazer e que a sua castração impede. Mas deu uma pista - não quer uma "política do fechar tudo", porque, enfatizou, "ninguém aguenta". E também apontou mais erros, dos prefeitos e governadores que atendem às recomendações da Organização Mundial da Saúde, dos epidemiologistas e de todos os estudos que determinam isolamento social, uso de máscara e imploram por mais vacina para conter o vírus que matou mais de 260 mil pessoas no Brasil.

O projeto oculto do candidato à reeleição para conter a pandemia, cuja genialidade não está ao alcance dos cientistas, tem inimigos. São aqueles que, como disse, "se acovardaram" diante do vírus. E bradou contra a "frescura" das pessoas enterram os seus mortos e buscam vagas inexistentes na rede pública e privada dos hospitais lotados com vítimas do coronavírus. Ilustrou o seu pensamento lúcido e empático numa homenagem à sua professora primária, falecida na última semana, aos 101 anos de idade. "É a vida", filosofou.

Ao fazer um discurso confuso nesta quinta-feira, em São Simão (GO), onde foi inaugurar trecho da ferrovia Norte-Sul, projetada no governo do ex-presidente José Sarney, lembrou o grande feito do seu governo, que foi acabar com o horário de verão.

Em sua fala, feita num palanque para plateia selecionada, o capitão reformado mostrou desespero. Está com medo e agora tenta ganhar no cuspe. Bravejou e retorceu-se, sem anunciar a sua nova fórmula mágica para conter a sua queda de popularidade.

As pessoas escutam a peroração desconexa e chula do capitão reformado, que do alto do seu palanque e das suas limitações cognitivas, não vê os cemitérios cheios e os hospitais lotados.

O capitão que não sabe tabuada e lê com dificuldade faz as contas para a sua plateia, apresentando o número de vacinas que vai entregar para imunizar a população, insuficientes para conter o vírus e as mortes no país. O imbrochável tem que se render aos cientistas do Instituto Butantan, que acumulam, em mais de cem anos de pesquisa e trabalho, a capacidade de produzir vacinas e que não se renderam à inépcia e ao descalabro do desgoverno federal.

Ao discursar no palanque goiano, balançando-se, procura argumentos e informações que não tem, olhos arregalados, é a imagem de uma pessoa acuada. Faz ameaças vazias para obter o poder "de conduzir o país". Poder do qual nunca foi apeado, e que a integridade das instituições, em especial o Judiciário, o contém dentro dos limites da lei.

O capitão quer mais do que a lei permite. Mas, felizmente, por enquanto, está castrado pela lei, na sua ambição ególatra e antidemocrática. Não tem mimimi. E vamos parar com frescura.