Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A ciência dá um baile e Bolsonaro não é convidado
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Hoje o governo de São Paulo, com o Instituto Butantan, anunciou a vacina brasileira para o combate ao novo coronavírus. Há dois dias o capitão reformado anunciava um pacto nacional com um comitê para manejar a pandemia. O que ele não sabia é que nos laboratórios do Brasil cientistas se desdobravam em buscar a porta de saída real da ameaça de uma tragédia ainda maior, provocada pelo descalabro da sua gestão.
A falta de diálogo, de respeito à ciência, não impede que a ciência siga no seu compromisso de buscar respostas para o maior desafio sanitário registrado na história do país, em que já sucumbiram mais de 300 mil brasileiros, e em que milhões sobreviventes terão que contornar sequelas talvez para o resto das suas vidas.
No convescote em que o ex-deputado federal por 27 anos encenava um movimento de marketing, no qual pretendia refazer a própria imagem - imediatamente desmentida pelo seu descontrole emocional e verborrágico - o capitão ignorou aqueles que poderiam, de fato, contribuir com soluções.
Onde estavam os cientistas? A comunidade médica era representada por um ministro noviço que se preocupou mais em visitar compadres de especialidade do que em entender como pesquisadores, prefeitos, governadores podem contribuir. A vocação corporativa se sobressai em relação à urgência com que ações concretas são requeridas.
Se o capitão não queria a vacina dos chineses, como classificou a Coronavac, que hoje imuniza nove em cada dez pessoas que são vacinadas no país, agora tem que engolir a nova vacina que vem a caminho, e cuja capacidade de ser produzida ignorou e desestimulou. Foi atrás de um spray numa missão liderada por um chancelar especializado em romper pontes e transformar o Brasil em pária internacional. No final, o aprendizado foi o uso de máscara, uma aula cara, paga pelos brasileiros, para que o filho do capitão fosse passear em Israel.
Onde estava o novo ministro da Saúde - ainda perplexo com os números de mortos "além do bom senso", como despropositadamente considerou o vice, general Mourão - quando os cientistas do Butantã anunciaram a nova tecnologia brasileira para lidar com o vírus mortífero? Indo de beija-mão a beija-mão, em conversa fiada e desconhecendo o que a ciência faz, simplesmente porque o negacionismo impede que se olhe para o que pesquisadores e cientistas podem fazer.
A saída no grito, tão ao gosto do capitão, é um recurso que o novo Bolsonaro está descobrindo, ao custo de perda de credibilidade e ao custo de milhares de mortes, que não funciona. Não parece, porém, que esteja completamente convencido. Tem uma barreira cognitiva que o impedirá de enxergar aquilo que desmente uma informação precária, inicial, uma convicção fundada em fantasias.
O novo-meio-ministro da união nacional declarou que não é um maquiador, que é um médico, mas faz cosmetologia - com o perdão a essa indústria de grande de importância -, agora deslocado de função no ministério da Saúde.
O que parece real é que o tempo que se perde em beija-mão poderia ser mais bem empregado em conversas produtivas e em aprender o que está sendo feito e o que está acontecendo. A amostra de repúdio à atual maneira como se lida com a pandemia o meio-ministro experimentou com as manifestações que recebeu nas suas visitas de cortesia.
O mundo soube, ao mesmo tempo que as autoridades nacionais do Comitê de combate à pandemia, que havia gente trabalhando para de fato trazer respostas para o enfrentamento.
O capitão recebeu o troco. A ciência está sendo mais rápida que o negacionismo e a "união nacional" de mentirinha.
Salve o Instituto Butantan!
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